CONEXÃO MILÃO

Ana e João tinham-se conhecido no fim de semana de todos os santos, num evento do Holmes Place. Ele era um dos personal trainer mais populares do ginásio, devido, fundamentalmente, ao porte físico que exibia de forma natural, mas vistosa. Ela era uma cliente regular, mas que nunca tinha dado nas vistas, pois camuflava o seu corpo por detrás de um fato de treino largo e escondia o rosto com uma moldura de cabelo, propositadamente despenteado. A única coisa que traía a sua camuflagem eram os olhos azuis. A postura discreta e reservada fazia o resto e ela era apenas um entre os muitos frequentadores do ginásio.

A inscrição no evento fora uma questão de impulso e aconteceu no último minuto, quase como um ato de revolta. O homem com quem costumava sair, depois de um longo período de jejum que se seguiu ao divórcio, cancelou a viagem que tinham planeado e ela ficara sem programa para o fim de semana prolongado. Os amigos já todos tinham programa e a inscrição no evento foi uma forma de evitar ficar sozinha em casa.

Como era uma mulher independente decidiu não ir no autocarro com os outros e foi direta para o restaurante onde se iria realizar o jantar de receção dos convidados. A sua chegada foi o acontecimento da noite. O vestido preto e justo realçava-lhe as formas perfeitas do corpo, deixando todos boquiabertos. A indumentária, o rosto levemente maquilhado, o penteado que lhe apanhava o cabelo na nuca, mostrando um pescoço elegante e um sorriso capaz de derreter um iceberg fizeram o resto.

João mal a viu sentiu-se atraído como se ela tivesse um imane. Isso fê-lo ignorar a legião de pretendentes que o rodeavam até então e dedicar toda a sua atenção a Ana. Ela não conhecia muitas pessoas no ginásio, por isso recebeu a atenção dele como uma bênção, embora passado algum tempo fosse evidente que tinham expetativas distintas em relação ao que pretendiam daquele convívio. Ela apenas se queria divertir e João tinha um genuíno interesse nela que à medida que a noite avançou deixou de ser apenas físico.

Embora ele não tivesse tido a capacidade ou vontade de dar sequência a nenhuma das suas conversas mais eruditas, tinha o condão de a fazer rir. Isso fez com que se deixasse ficar na sua companhia a noite toda. João, por seu lado, tinha sido atraído pela sua beleza, mas estava deslumbrado com a sua inteligência e intrigado com a sua reserva. Ao fim de algumas bebidas ela relaxou um pouco e começou a apreciar as piadas e brincadeiras do João. Ele estava louco por ela e ela divertidíssima com ele.

Apesar das diferentes expetativas que tinham um em relação ao outro e de terem gostos relativamente distintos, a reação ao contacto físico foi muito poderosa para ambos. Foi um contacto fortuito que levou João a segurar a mão dela. A descarga elétrica que se produziu foi sentida, por ambos, em todo o corpo. As vozes emudeceram e a linguagem verbal foi substituída pela corporal. Eles comunicavam sem necessidade de falar. O primeiro beijo foi um mero roçar de lábios, mas acendeu a fogueira do desejo. João estava apostado em conquistá-la e ela deixou-se levar ainda que tudo indicasse que ele não lhe daria a satisfação intelectual que ela esperava de um companheiro. João fazia-a rir e isso era algo que poucos homens tinham conseguido. Não sabia explicar muito bem a razão, mas sentia-se bem a seu lado e o contacto físico fazia explodir todos os seus sentidos. Foi assim que acabaram a noite no mesmo quarto. O sexo foi algo do outro mundo e eles não se cansavam um do outro, tendo adormecido já de manhã, depois de uma noite extenuante. Apesar da noite maravilhosa que passou, ela manteve a distância no dia seguinte e quando o fim de semana terminou ela despediu-se dele com um simples beijo na face. Estava decidida a colocar um ponto final na aventura de fim de semana.

Na semana seguinte ela não foi ao ginásio, embora não existisse nenhum impedimento específico para tal. Também não atendeu as chamadas do João, ao princípio, porque não queria falar com ele, depois, por não saber muito bem o que lhe dizer. Na sexta-feira ele surpreendeu-a com a sua presença. Ao fim do dia, quando ela colocou os pés na rua, ele estava plantado em frente ao escritório com um sorriso estampado no rosto. Ela hesitou alguns segundos, depois correu em direção a ele e deixou-se aconchegar pelo seu abraço. Depois de um jantar onde as diferenças entre os dois lhe voltaram a pesar, ela, rendida ao charme dele, entregou-se de corpo e alma.

Aquilo que ela tinha pensado ser a aventura de uma noite, acabou por se transformar numa relação que, embora incompleta, a mantinha presa. O contacto físico com ele funcionava para ela como uma droga. Ana tornou-se viciada no João.

João via a relação de uma forma diferente: estava completamente apaixonado pela Ana. Isso levava-o a fazer tudo para lhe agradar, tendo-se tronado demasiado dependente dela. Isso acabava por o diminuir aos olhos dela e a levar a pensar muitas vezes que estava na relação errada. No entanto, quando ele lhe tocava ou sussurrava ao ouvido ela rendia-se e submetia-se à vontade dele.

Os amigos dela, sobretudo as amigas, adoravam-no e divertiam-se com as brincadeiras dele e o seu extraordinário bom humor. Joana vibrava com esses momentos. No entanto, sentia-se incompleta. Ela tinha um lado intelectual muito desenvolvido e intenso e sentia a necessidade de partilhar isso com o seu companheiro. Neste aspeto a relação era um completo fracasso! João, por mais que tentasse, não conseguia ter qualquer interesse no assunto. Detestava ler e as conversas sobre assuntos eruditos, fosse qual fosse o tema, aborreciam-no. Ainda assim, ao fim de nove meses eles continuavam juntos e preparavam-se para fazer a sua primeira viagem de longa duração. Ela tinha elegido o Egito e ele fez-lhe a vontade. O programa era longo e interessante. Passariam pelo Cairo, com uma visita a dois museus, às pirâmides de Gizé e à cidadela. Depois rumariam a Luxor onde iniciariam um cruzeiro que os levaria a Aswan, com uma visita a Abul Simbel e terminariam com uma visita ao deserto branco e negro.

Como não existiam voos diretos para o Cairo, eles fariam escala em Milão. Estava tudo planeado, ou não tivesse sido o João a organizar a viagem com um rigor metódico, que se contrapunha ao desprendimento que Ana manifestava em relação a esse aspeto da vida. Seria a viagem perfeita.

Os problemas começaram no check-in em Lisboa. Enquanto o João fez o check-in direto para o Cairo, a Ana tinha de voltar a fazê-lo na escala de Milão. A agência garantiu que não existia nenhum problema, apenas teriam o inconveniente de levantar as malas dela em Milão e fazer o check-in, pois a reserva estava confirmada. João não queria acreditar no que estava a acontecer. Ele tinha planeado tudo com muito cuidado e antecedência e este contratempo deixou-o irritado. Embora fosse claro que não era responsável pela situação, ele sentia-se culpado e a expressão de desapontamento do rosto de Ana, acentuou esse sentimento. João gostava de ter tudo sob controlo e quando isso não acontecia ele ficava nervoso e a ansiedade consumia-o. Ana, depois da deceção inicial, encarou a situação como apenas uma contrariedade a ultrapassar. O intervalo de tempo entre os dois voos era mais do que suficiente, por isso resolveriam a situação em Milão.

Quando o anúncio do atraso apareceu no ecrã dos indicadores de voo, eles ficaram preocupados. O intervalo de tempo da escala em Milão fora reduzido para quarenta e cinco minutos, o que tornava difícil apanhar o voo de ligação até para os passageiros em trânsito. João entrou em histeria e exigia ao balcão de embarque que resolvessem o problema, tendo sido necessária a intervenção dos seguranças do aeroporto para o acalmar.  Ana, perante a impossibilidade de apanhar o voo onde tinha a reserva, para o Cairo, resolveu a situação com simplicidade.

– Não te preocupes. Resolvemos o problema em Milão.

Quando desembarcaram, foram diretamente para a porta de embarque da Egypt Air, cujo voo tinha sido atrasado trinta minutos. Apesar de reconhecerem que eles tinham razão, não foram capazes de resolver o problema. Ana tinha mesmo que levantar as malas e fazer o check-in, o que implicava perder aquele voo. O embarque já se tinha iniciado e o check-in estava fechado.

– Não te preocupes. Eu apanho o próximo voo para o Cairo e encontramo-nos lá. – Disse Ana.

João ainda protestou, mas se não embarcasse perdia o voo e ficava sem garantia de conseguir lugar no voo seguinte, para além de que não estava propriamente folgado em termos financeiros. Portanto, ele partiu enquanto ela ficou em Milão a tentar encontrar um voo para o Cairo.

Ana apenas conseguiu um lugar no voo de segunda-feira à tarde e eles tinham chegado a Milão na sexta ao fim do dia. Apesar da sua capacidade para lidar com contrariedades ela estava algo irritada, ao contrário do seu companheiro de infortúnio. É verdade. A seu lado estava o Pedro. Sorridente e brincando com a situação.

– Desculpe a intromissão. O meu nome é Pedro e também, me aconteceu o mesmo. Estou à espera do meu voucher e depois vou aproveitar o fim de semana para conhecer a cidade. – Disse ele, com ar jovial e mostrando um sorriso maravilhoso.

O à-vontade dele era contagiante e o sorriso teve o condão de a acalmar. Ela tinha sido colocada naquela situação sem que tivesse contribuído para tal, por isso mais valia aproveitar e tirar desta o máximo proveito possível.

– Eu sou a Ana. – Disse ela estendendo a mão – Tem razão. O melhor é olhar para esta situação como uma oportunidade.

O contacto com Pedro era fácil e a sua boa disposição contagiante. Quando chegaram ao hotel que a companhia lhes havia destinado, já tinham tomado a decisão de ir conhecer Milão juntos e quando embarcaram para o Egito, nenhum dos dois queria que o fim de semana terminasse. Tinham falado de tudo e de todos, com exceção das pessoas que os esperavam, a ambos, no Egito.

João e Filipa estavam ao lado um do outro, no aeroporto de Luxor, mas apenas travaram conhecimento quando João desligou o telefone.

– Desculpe a intromissão, mas não pude evitar de escutar a conversa e vejo que vos aconteceu o mesmo que a mim e ao meu irmão.

João olhou para ela e ficou estático, como se não tivesse percebido muito bem o que ela tinha dito. Quando ela desatou a explicar ele interrompeu-a.

– Desculpe. Eu entendi o que disse, apenas fiquei deslumbrado a olhar para si. – Disse ele, de forma simples e sincera.

Filipa demorou algum tempo a processar o que tinha ouvido, depois o seu rosto iluminou-se num sorriso. João não sabia o que fazer ou dizer depois de ter pronunciado aquelas palavras. O comentário tinha-lhe saído de forma espontânea e embora fosse sentido ele não conseguia explicar a razão que o levara a verbalizá-lo. Afinal de contas estava à espera da namorada.

Filipa respeitou o silêncio dele e não quis aumentar o desconforto que ele sentia com qualquer tipo de comentário. No entanto, tinha ficado satisfeita e interiormente sorria.

Quando viram chegar Ana e Pedro, conversando animadamente, olharam um para o outro sem saber o que pensar. João sentiu o aguilhão do ciúme espicaçá-lo e cerrou os punhos num esforço para conter uma reação mais violenta, da qual pudesse vir a arrepender-se.

Pedro adiantou-se e fez as apresentações.

– Esta é a minha irmã Filipa. – Disse, dirigindo-se para a Ana.

– Este é o meu amigo João. – Disse Ana, apontando para ele e dirigindo-se a Pedro.

João ficou estático. Em um fim de semana apenas tinha sido “promovido” de namorado a amigo, ainda que sem o saber. Depois de alguns instantes de hesitação, estendeu a mão a Pedro e cumprimentou-o, ao mesmo tempo que Ana e Filipa se osculavam. João estava abismado consigo próprio. Algo de muito insólito se tinha passado. O facto de ter sido rotulado de apenas amigo, pela sua namorada, não tinha desencadeado a reação que lhe era tão típica. Será que isso estava relacionado com o facto de Filipa ser apenas irmã de Pedro? Interrogou-se.

Os dois casais separaram-se, e dirigiram-se para os respetivos transportes. Tinham que fazer check-in nos barcos que os levariam rio acima e não tinham tempo a perder. João e Ana foram diretamente para o barco onde almoçaram, enquanto Pedro e a irmã iriam visitar alguns monumentos antes e apenas fariam o check-in ao fim do dia. Portanto, a probabilidade de voltarem a encontrar-se no Egito era relativamente reduzida. O que eles não sabiam era que o destino lhes preparava mais uma partida.

Durante o almoço e o resto da tarde Ana e João relataram um ao outro a experiência de um fim de semana com vivências muito distintas. Estavam descontraídos e sentiam-se bem um ao lado do outro, mas quando fizeram sexo, pois tratou-se apenas disso, não sentiram a mesma ligação que nas vezes anteriores. Ana rejeitou, embora de forma suave, a tentativa de submissão do João e este respeitou a sua vontade. Definitivamente, algo havia mudado na relação dos dois. Apesar de ambos sentirem a mudança, não falaram sobre ela. A verdade é que não estavam preparados para o fazer.

Pedro e Filipa também tinham muito que falar. Filipa trabalhava na embaixada portuguesa do Cairo e tinha recentemente terminado uma relação com alguns anos. O namorado tinha um perfil demasiado intelectual e muito focado no trabalho. Ela, apesar de ser uma excelente profissional, gostava de gozar a vida e fora do local de trabalho privilegiava as coisas banais e não necessitava de um companheiro que partilhasse com ela interesses intelectuais, ao contrário do irmão que ela adorava. O irmão tinha vindo visitá-la, aproveitando o facto de estarem os dois livres e de ambos terem terminado uma relação recentemente.

Pedro não se cansava de falar da Ana, embora o facto de esta ter um namorado, que qualificou apenas como amigo, fosse um contratempo. Por isso, foi com satisfação que tomou conhecimento do comentário que o João tinha feito em relação à irmã. Filipa que se tinha sentido atraída pela aparência física do João, ficou muito agradada ao tomar conhecimento de algumas das características deste, relatadas pelo irmão em segunda mão. A troca de impressões foi feita entre visitas a vários monumentos de Luxor, pelo que ao fim do dia eles estavam exaustos e quando fizeram o check-in no barco estavam, acima de tudo, desejando descansar.

– Eu vou estender-me um pouco sobre a cama antes de tomar um duche para ir jantar. – Disse Pedro.

– Vou fazer o mesmo. O jantar é buffet, pelo que nunca é boa ideia ir muito tarde, mas quando chegarmos ainda deve existir comida.

Pedro concordou com um grunhido e Filipa percebeu que ele já dormia.

João e Ana tinham passado a tarde na piscina do barco e na cama, pelo que foram jantar assim que o buffet foi aberto, estavam com apetite, mas, sobretudo, sentiam necessidade de estar com outras pessoas. A variedade e qualidade, quer das saladas, quer dos pratos, era muito boa e eles deliciaram-se com a refeição. A seu lado estava uma mesa preparada para duas pessoas, mas sem ocupantes. O barco já tinha largado, pelo que todos os passageiros deveriam estar a bordo, mas cada um escolhia a hora a que queria ir jantar. Estavam tão entretidos a discorrer sobre a qualidade do jantar que apenas se aperceberam da presença dos vizinhos quando estes a manifestaram de forma efusiva.

– Vocês aqui? Não posso acreditar!

Ana não precisou de se virar para reconhecer a voz de Pedro que estava ao lado de Filipa, mesmo atrás de si, apesar disso, virou-se como que movida por uma força magnetizante. João levantou a cabeça e fixou o olhar no casal, ao mesmo tempo que exclamava:

– Mas que grande surpresa!

Apesar de já terem terminado a refeição, Ana e João deixaram-se ficar à conversa com os irmãos, e, quando abandonaram o restaurante, sem necessidade de palavras, Ana caminhava o lado de Pedro e João ao lado de Filipa. Os primeiros, discutiam a diferença entre ética e moral e os segundos contavam um ao outro histórias de experiências engraçadas. Era a vida a emendar a própria vida.

Depois do jantar, foram para o bar do terraço e ficaram por aí à conversa até já ser muito tarde. Os dois novos casais surgiram de forma natural, no entanto, nenhum deles tinha a coragem de verbalizar aquilo que o corpo e a mente desejavam. Pedro e Ana estavam prontos para se entregar um ao outo, mas isso implicava que o João e a Filipa ficassem no mesmo quarto, o que era um compromisso complicado para quem tinha praticamente acabado de se conhecer.  Assim, a noite terminou de forma quase inevitável, mas mal para todos.

Depois de fecharem as portas dos respetivos quartos, e apesar de separados por dois pisos, o tema de conversa foi o mesmo: os sentimentos que os uniam e os que os separavam. Pedro não tinha dúvidas de que queria ficar com a Ana e Filipa estava consciente da sua atração pelo João. Seria isso suficiente para assumirem a relação ao ponto de passarem a noite juntos? Por sua vez Ana e João não conseguiram deitar-se na mesma cama sem antes ter uma conversa clarificadora do estado da relação de ambos.

– É evidente que amanhã temos de ter uma conversa com o Pedro e a Filipa. Eles devem saber o que cada um de nós sente e depois veremos como nos organizamos. – Disse Ana.

João concordou. Depois, adormeceram ambos na mesma cama, mas como verdadeiros amigos.

Filipa acordou cheia de vontade de encontrar o Pedro e de partilhar com ele as novidades. O barco subia o rio, que apesar de largo permitia uma boa visibilidade das margens e ela foi até ao terraço respirar um pouco de ar puro. Para sua surpresa foi encontrar Pedro, debruçado sobre a amurada da proa, a olhar o infinito.

– Um euro pelos teus pensamentos. – Disse ela, ao mesmo tempo que o osculava na face com ternura.

Ele assustou-se, pois era exatamente nela que estava a pensar. Depois de recomposto da surpresa reagiu.

– Valem muito mais do que isso.

– Olha o convencido. – Disse ela, em tom brejeiro.

– Não se trata de valorizar os meus pensamentos, mas sim o assunto sobre o qual eles versam. – Disse ele em tom sério, mas com um sorriso bailando nos lábios.

– Pode saber-se que assunto é esse que torna os teus pensamentos tão valiosos? – Perguntou ela.

– Sim. Estava a pensar em ti e tu para mim tens um valor incalculável. – Disse ele muito sério e fixando o olhar dela.

Ana perdeu-se naquele oceano azul que era o olhar de Pedro e quando se apercebeu do que estava a acontecer, encontrava-se nos braços dele e trocavam um beijo ardente e caloroso.

Entretanto, João e Filipa já estavam no restaurante e começaram a tomar o pequeno-almoço. Sem necessidade de falarem sobre o assunto sentaram-se os dois à mesma mesa. Tinham gostos muito parecidos e partilharam entre si aquilo que cada um havia escolhido para saciar o apetite. No meio da brincadeira, em que a troca se tinha tornado, Filipa segurou a mão dele para evitar que este ficasse com o último croissant e isso fez com que parassem fixando o olhar um no outro.

– Precisamos de falar. – Disse João.

– Penso que chegamos todos à mesma conclusão. Nós queremos estar um com o outro, tanto como o Pedro e a Ana querem estar juntos. – Disse Filipa.

João acenou afirmativamente e segurou-lhe a mão com ternura ao mesmo tempo que lhe perguntava.

– Queres passar o resto da viagem comigo. Não vou forçar nada. Apenas me parece que faz mais sentido partilhar o quarto contigo do que com a Ana. Ela está de acordo e também prefere partilhar o quarto com o Pedro.

– Então está decidido.

Ao cruzeiro seguiu-se a visita ao deserto branco e negro e depois, Ana regressou a Lisboa com o Pedro e João viajou até ao Cairo com a Filipa. Iria ficar a viver no Egito com ela. Ficaria na casa dela, mas não tencionava viver à sua custa. Talvez fosse altura de dar uso ao curso de Engenharia mecânica e tornar o trabalho de personal trainer irrelevante. Filipa tinha alguns contactos que podiam ajudar.

Por sua vez Pedro e Ana olhavam para o futuro com grande expectativa e entusiasmo. Estavam ambos convencidos de ter encontrado a sua metade, ou seja, estavam completos.

O futuro pertencia-lhes, mas tinham todos um caminho muito grande a percorrer e muito a aprender uns sobre os outros. Foi assim que um erro das linhas aéreas permitiu o acerto das linhas da vida.

Deixe um comentário