Serbom.Sermau.Oqueeufaziaeoqueeupensava.Dumacoisaàoutraiauma grandedistância.Era a minhaluta diáriapeladecência.E era agoracomo uma revoltainterior,umanecessidadedeexpiaçãoquasediscursivaqueeudeviaresolverem conflitocomigomesmo.Impiedosacomtodos.Comtudo.Eessencialmentecomigo. Porquêeu?
Porquê?Quecrimeterrívelteriacometidoquemerecessetamanhapunição? Aqueledesejo?Naquelanoite?Asmulheresqueeuamoporsexo?Euapenasque- riaserfeliz.Denovo.Atéopiordoscriminosossabecomoexpiaroseucrime.Ainda quenãodemonstrequalquervontadedeofazer,eleestádescansado.Sabeoqueo pode esperar. Sabe que se lhe apontarem o dedo é a altura de pousar o mal que carreganosombroselimparaculpa.Teráolhosparabaixardamultidãoqueoinsulta, teráavergonhaporopção.Masnadadissoseaplicavaaomeucaso.Umturbilhão deideiasrodopiavanoTehillimdoSteveReichmisturadocomimagensdefomedo Sudãoque,natelevisão,reclamavamdalegitimidadedomeusofrimento,Eeurepetia,talvezempânico
Meioadormecido,fiz-lhesinalparaentrar.Nãoentrouevoltoualevantaramão, agoracomapalmavoltadaparamim.Osobretudocinzentodesapropriadoparaa épocamasapropriadoparaofrioeraomesmodaquelaprimeiranoite.Apenaslhe queriadizerqueeunãofalhei.Naquelanoite,eunãodissequefalhei.Eunãosabia oquefazer;antesdesevoltaredesaparecer,acrescentou,“Ah!,creioqueperdeu isto”.Entregou-mequalquercoisaembrulhadaempapeldejornal.Desemaranheias folhas.Tinhanasmãovelhospoemasmeusqueeutinhaacertezadeterqueimado masqueestavamagoraaliàminhafrenteescritosnumacaligrafiaquenãoeraa minha. Amarroteiospapéise,comocomeçavaaafastar-se,gritei-lhedaportaqualquercoisapoucocoerente.Comonãosevoltouecomeçavaadescerasescadas, corriatrásdele.Quandolheestendiamão,jánopatamardorés-do-chão,elevoltou- separamim,sorriu,eabriu-meaportadoapartamentodosconsierges.Todoeste tempoovelhoconhecia-meeeunãosabiaqueeraelequeadministravadiariamenteomeulixo.Entrei.Oartinhaarrefecidorepentinamenteesoube-mebemencostar- meaumfogãodelenhaantigo.Oseuapartamentoerabemmaismodestodoqueo meumastinhaumaspectocastiçoporqueeracompletamenteforradoamadeira.Fui atéàjaneladofundoporondeentravaapoucaclaridadedacasa.EunãocostumavaacompanharasfasesdaLuamastinhaasensaçãodequenãohaviaLuanaquelanoiteealiestavaarodadequeijomaisbrilhantequeeualgumavezvira.Àminha direita,umaoutravisãoatéentãointerdita.Arranha-céusnegrosrecortadoscomo popasdenaviosencalhadosnummarnegrodealcatrãoquenadatinhamavercom a minha cidade. Mais à direita ainda, néons que me recordaram as paisagens nocturnasdoHopper.Depois, inesperadamente,àesquerda,estendia-seummantofofo queeupresumiquefosseverdeduranteodia.Erainexplicávelcomoeudesconheciaporcompletoaquelapaisagem.
Depoisdememandarsentarefecharaporta,tirouosobretudoeocachecolepen- durou-osàentrada.Sente-se,vamosjantar.Ecomeçouadescascarbatatas.Aquele gestodespertou-mesubitamenteamemóriae,então,olheiemvoltamaisatentamen- te.EraacasadoEric,dovelhonamontanha.Impecavelmentelimpaearrumada, comonoscontouEric.Quandomevoltei,ovelhoacabavadepôrdoispratosnamesa aopédaestantepreenchidacomvolumesantigos.Então,umpersonagemsinistroe escurosaiudeumdoscantosdacasa,acocorado,comumrevolverapontadopara os meus olhos. Era jovem e tinha o cabelo negro, comprido e despenteado e vestia o mesmosobretudoqueovelhopendurarapordetrásdaporta.Quemavançavapara mimeraeupróprio.Comumolharesgazeadoeumsorrisotenebrosoadistorcer-me aboca.Recueiquantopude,quandoaarmametocouafacefizumgestoparaades- viareacordei.Semosaberainda,eutinhafeitoamaisvitaldasescolhas.
Sou um curioso numa busca permanente e contínua do sentido da vida. Sou gestor, professor universitário, formador, blogger e escritor (bom, aprendiz de escritor!)
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Para quem ama as letras é fácil escrever, porém, não é fácil manter a cabeça no lugar. Um pouquinho de cada coisa, dança, desenho, música e o principal textos. Venha me acompanhar nessa aventura.
A todas as pessoas que passaram pela minha vida; às que ficaram e às que não ficaram; às pessoas que hoje são presença, àquelas que são ausência ou apenas lembrança...