CARTA DE AMOR – Amor Rejeitado

CARTA DE AMOR – Amor Rejeitado

Sentado nas rochas junto ao Guincho deixo que o vento me despenteie. Sinto os salpicos da água salgada no rosto, como se fossem pequenas alfinetadas. Desejo que o vento me leve para longe, que o mar me afogue as mágoas, mas a dor continua… A solidão é insuportável, mas a vida continua…
O meu pensamento voa em direção ao passado. Sem o desejar, revivo o momento em que te conheci. O tom claro dos teus cabelos ganhava um brilho especial sobe o efeito do sol. Parecia ter sido entrelaçado com fios dourados, colocados aqui e ali, como que ao acaso. Quando te viraste e sorriste, o sol escondeu-se envergonhado. Eu fiquei parado e boquiaberto. Nunca te tinha visto antes mas sentia por ti uma atração indescritível.
Foi amor à primeira vista!
Quando me sentei a teu lado tu sorriste e deixaste que eu ocupasse o único lugar vazio na explanada. Expliquei-te como se calculavam as prestações de capital, pelo método Francês e tu convidaste-me para a festa de fim-de-semana no ISCTE.
 Foi amor ao primeiro encontro!
Tudo em ti era perfeito. O mundo a teu lado era perfeito e a minha felicidade era perfeita. Aprendi a amar como nunca tinha amado, desejando entregar-me a ti mais do que desejar que fosses minha. Tu abriste-me os braços e eu aconcheguei-me. Construí neles o meu ninho. Um ninho de felicidade. O teu corpo macio encontrou-se com o meu, numa conjugação perfeita.
Foi amor ao primeiro contacto!
O meu coração transbordava de amor por ti e a felicidade que sentia deixava-me sem palavras. Ainda assim declarei-te o meu amor, descrevi-te a minha paixão e tu, sem palavras, sorriste. O teu sorriso bastou-me. Mostrei-te a cidade e viajamos pela noite. Conheceste os meus amigos e eu os teus. Tu gostavas de me exibir e eu deixei que me mostrasses como um troféu. Quando a situação era desconfortável o teu sorriso resolvi-a e eu sentia-me amado. Tu eras a minha deusa. Estavas no altar da minha vida e eu ajoelhava a teus pés, amando-te, admirando-te, até idolatrando-te.
Foi amor em todos os momentos!
Ergo a cabeça, abro os olhos e fixo o mar. «Tenho que varrer-te do meu pensamento!» Mas como posso apagar a chama deste amor que ainda me consome o peito? Amo-te apesar da crueldade da tua traição. Amo-te, apesar de saber que fui vítima do teu plano diabólico para reconquistares o piloto de motos. Amo-te simplesmente. Fecho os olhos novamente. Revivo a tarde em que me pediste para comprar um bilhete especial com direito a visita às boxes do autódromo. A forma irónica como ele olhou para mim quando me apresentaste e a forma cruel com lhe disseste «A escolha é tua!» Ele sorriu, puxou-te para ele e beijou-te. Eu tive que me segurar para não cair quando te vi partir, abraçada a ele, sem hesitar e sem nem sequer um olhar de despedida.
Foi traição no momento final!
Não te quero, não te desejo, mas não consigo evitar de te amar!

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