A tua carta entrou na minha vida no pior momento possível. Lembro-me perfeitamente de a ter recebido e guardado, para ler num momento mais calmo. Esse momento tardou em chegar. O processo de divórcio em que estava envolvida, quando a recebi, consumia todas as energias que me restavam depois do dia normal de trabalho. Acabei por esquecer a carta que foi parar ao caixote das minhas coisas pessoais. Depois de colocar em ordem a minha vida pessoal, era tempo de organizar as minhas coisas. Foi assim que me deparei com a tua carta.
Depois de teres deixado a empresa perdemos o contacto, embora saiba que estás bem em termos profissionais. Li a tua carta várias vezes e hesitei se devia ou não responder-te. Neste momento sou uma mulher livre e não procuro ativamente uma nova relação. Apesar disso, decidi responder à tua carta.
Não posso fazer-te uma declaração de amor como aquela que tu me fizeste, não apenas porque não tenho a mesma arte, mas porque o meu sentimento por ti não tem a pretensão de ser igual ao que nutres por mim. Apesar de não o demonstrar, à época, tu não me eras indiferente, a minha cabeça é que estava ocupada em lidar com o fim de uma relação e não tinha espaço para pensar no início de outra. Hoje, penso em ti com saudade.
Emocionei-me ao ler a tua carta. Emocionei-me ao ver que sentias por mim algo tão lindo, tão intenso e tão profundo. Mas emocionei-me também porque tomei consciência de que isso me agradava, pois conseguia perceber que eu também sentia algo por ti. Conhecemo-nos no momento errado! Hoje tu terias toda a minha atenção e dedicação e quem sabe se não teria nascido, entre nós, um verdadeiro e grande amor. O amor das nossas vidas! A diferença de idades que nos separa não me preocupa, pois onze anos não são nada, embora isso não invalide o facto de ser mais velha que tu. Mas na tua idade os amores vão e vêm muito rapidamente e, um ano depois de teres escrito aquela carta, imagino que já estejas a viver uma nova paixão. Eu pertenço seguramente ao teu passado.
Este pensamento martela-me a cabeça e pesa-me no peito muito mais do que esperava. A sensação de ter perdido a oportunidade de te conhecer melhor e de eventualmente te vir a amar angustia-me. Sinto o peito apertado e os olhos humedecem-se sem que eu consiga conter a emoção. Afinal tu significavas e significas, para mim, mais do que alguma vez imaginei. Talvez tudo isto seja consequência da minha fragilidade, mas seja como for eu estaria disposta a tentar fazer com que entre nós pudesse existir algo mais profundo que uma simples amizade. Provavelmente sorrirás ao ver esta minha confissão. Sorrirás porque eu já não significo nada para ti: já tens alguém a teu lado que te dá aquilo que eu não dei. Em relação ao passado nada podemos fazer. O comportamento de cada um de nós foi força das circunstâncias que nos rodeavam. No entanto, em relação ao futuro muita coisa pode ser feita. Deixo-te aqui o desafio: Caso ainda me queiras com me querias, à data desta carta, eu estou disponível. É importante que percebas que não procuro ninguém para ocupar um espaço que ficou livre com o meu divórcio. Eu estou disponível porque sinto por ti algo que não me atrevo a classificar como amor, mas que me leva a querer estar contigo, a conhecer-te e, quem sabe, a amar-te um dia!
Sou um curioso numa busca permanente e contínua do sentido da vida. Sou gestor, professor universitário, formador, blogger e escritor (bom, aprendiz de escritor!)
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Para quem ama as letras é fácil escrever, porém, não é fácil manter a cabeça no lugar. Um pouquinho de cada coisa, dança, desenho, música e o principal textos. Venha me acompanhar nessa aventura.
A todas as pessoas que passaram pela minha vida; às que ficaram e às que não ficaram; às pessoas que hoje são presença, àquelas que são ausência ou apenas lembrança...