Faz uma semana que recebi a tua carta: a tua missiva lançou a minha vida num turbilhão. Apesar disso, não quero que sintas qualquer responsabilidade por esse facto. Na verdade, a tua carta apenas veio questionar os fundamentos da minha atual relação.
Há um ano atrás, a ausência de resposta da tua parte deixou o meu orgulho ferido, mas aceitei-a pois sabia que escrever uma carta de amor a uma mulher casada era uma grande ousadia, sujeita a uma não resposta. Nunca imaginei que estivesses a passar por um processo de divórcio, caso contrário não teria saído do teu lado. Apesar disso, recebi a tua carta com um sentimento de raiva que nem eu consigo explicar. Vinha trezentos e sessenta e cinco dias atrasada. Exatamente o número de dias que eu tinha gasto a procurar esquecer-te. Decidi nem sequer aler. O mais provável era tratar-se de um “sermão”, que era aquilo que menos precisava na minha vida. Ao invés de a jogar no lixo, deixei-a dentro do livro que estou a ler. Finalmente, ontem, ao fim do dia, decidi abri-la. Por mais que queira mentir a mim próprio eu não consegui esquecer-te e a minha relação atual sofre com esse facto. Se a tua carta vinha matar definitivamente aquilo que ainda sentia por ti, pois que assim fosse. Isso iria ajudar-me a seguir com a minha vida.
A leitura deixou-me atónito e transtornado. A surpresa de seres uma mulher livre era apenas suplantada pelo facto de estares interessada em mim. O amor que eu tanto me esforçara por esquecer tomou conta de mim. A única coisa que queria era correr a aninhar-me nos teus braços. Era sentir o teu afeto e carinho. Era amar-te sem limites, nem reservas. Tive de me conter! Os nossos sentimentos pesam de forma diferente no prato da balança da vida. Estão em estádios diferentes e representam uma entrega distinta. No entanto, só o facto de perceber que gostas de mim e que eu tenho finalmente uma oportunidade de te conquistar, faz-me sonhar.
Deitado na cama, fixo o olhar no teto, mas a minha imaginação voa para longe. Acordado, sonho contigo. Sonho que os nossos corações se encontram e batem desalmadamente um pelo outro. Sonho com passeios à beira mar, saboreando a areia molhada e macia com os pés e sentido o calor da tua mão na minha, pressionando os meus dedos com carinho. Sinto a tua energia entrar em mim e os meus pés flutuam. Sonho com viagens a locais exóticos e com um pôr-do-sol paradisíaco. Com sussurros de amor ditos ao ouvido, num entardecer rubro. Com o calor da tua cabeça, que repousa no meu ombro, enquanto te aconchego, num abraço quente, que funde os nossos corpos. Sonho com uma noite ao luar, em que a minha cabeça repousa no teu colo, fixando as estrelas, enquanto dos nossos lábios saem juras de amor eterno, tendo como testemunhas esses seres celestiais que brilham apenas durante a noite. Sonho que, despudoradamente, nos despimos de nossas vestes, e nos entregamos, um ao outro, num amar insano, mas pleno de paixão. Uma paixão que nunca se esgota, antes se renova a todos os instantes, para ser consumida em atos de amor. Sonho que os nossos corpos se fundem para toda a eternidade, dando e sentindo prazer, numa exaltação apenas ao alcance dos Deuses. Sim, porque no meu sonho, somos Deuses do amor.
Ontem, antes de decidir abrir a tua carta, terminei a relação que vivia de forma quase autómata e que me ajudava a esquecer de ti. Hoje, também eu sou um homem livre de outro amor que não seja aquele que sinto por ti e do qual quero ser escravo para o resto da minha vida. Quero que coloques em nós as grilhetas do amor e jogues a chave para o fundo do oceano. Quero que o mundo seja testemunha do nosso amor… Quero estar contigo agora e sempre. Diz-me quando e onde e eu serei Willy Fogg, apenas para ir ao teu encontro.
Sou um curioso numa busca permanente e contínua do sentido da vida. Sou gestor, professor universitário, formador, blogger e escritor (bom, aprendiz de escritor!)
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Para quem ama as letras é fácil escrever, porém, não é fácil manter a cabeça no lugar. Um pouquinho de cada coisa, dança, desenho, música e o principal textos. Venha me acompanhar nessa aventura.
A todas as pessoas que passaram pela minha vida; às que ficaram e às que não ficaram; às pessoas que hoje são presença, àquelas que são ausência ou apenas lembrança...