Sentada na beira da cama, com a mala a meu lado, estava incapaz de reagir. Recordo o teu sorriso naquela tarde. O teu olhar era de admiração mas o sorriso era um misto de diversão e solidariedade. Instintivamente sorri para ti. Concordei com um aceno, pois temia que a voz vacilasse e sentaste-me a meu lado. As minhas pernas tremiam de tal forma que não conseguia descer a cadeira de rodas do estrado. Começamos e encontrar-nos. Durante uma semana vivi os nossos encontros num misto de prazer e ansiedade.
Mantive a partida para o Algarve como o meu segredo, mas a contagem decrescente foi um suplício insuportável. Liguei-te, na esperança que aceitasses o meu convite, mas o teu silêncio foi como um murro no estômago. Parti angustiada. As três horas de viagem pareceram-me uma eternidade. Tu ficavas em Lisboa. Um homem livre, belo, alto e musculado, não tardaria muito e terias encontrado uma mulher que te dissesse isso mesmo. Que te murmurasse ao ouvido que te queria, que te desejava. Tudo aquilo que eu queria ter feito e não fiz. Esse pensamento martelava a minha cabeça de forma dolorosa. À medida que o tempo avançava sentia a pressão no meu peito aumentar. Sentia-me sufocar! Paramos numa bomba de gasolina e fui tomar um café. Estar fechada no carro era difícil, por isso, antes de entrar, fui dar um pequeno passeio. Partimos, estavam todos à minha espera!
O entusiasmo da chegada manteve-me ocupada durante algum tempo. O Passeio depois do jantar, junto ao cais, foi relaxante no principio, depois o pensamento voou para ti. «Meu Deus como eu desejava que estivesses aqui ao meu lado!» Quando a noite chegou a escuridão invadiu-me. Os elementos conjugavam-se e conspiravam contra mim. Tudo parecia feio, negro e mau. Fosse qual fosse o caminho que escolhesse para chegar até ti, todos pareciam terminar em desastre. Na minha mente via-te ao lado de outra mulher. Não conseguia ver o rosto dela mas o seu sorriso divertido enchia os meus ouvidos e explodia dentro da minha cabeça. Depois de alguma horas de insónia consegui adormecer. O acordar foi muito doloroso. Estava cansada e com sono. O dia parecia ter acordado com tão mau humor como eu. Tentamos aproveitar o tempo na esperança que o sol nos fizesse companhia ao fim da manhã e ele cumpriu a promessa.
Decidimos passar o dia na praia e na hora de maior calor fomos até ao restaurante mais perto e aproveitamos o refúgio para repor a energias. Sentada na explanada olhava o mar de olhos fechados. «Meu Deus como sentia a tua falta!». Voltei a sentir aquele aperto no peito, aquela sensação de aflição. Ia ser uma longa semana, sobretudo porque não tinha a certeza que viesses visitar-me no fim-de-semana. O telefone ganhou vida. Tinha chegado um email. Pelos vistos até o trabalho prometia não me dar paz. Não identifiquei o endereço de imediato. Depois fez-se luz. Agarrei o telefone de forma atabalhoada e deixei-o cair.
Li a tua carta com muitaemoção. Uma emoção que se manteve desde a primeira linha. Estava louca de felicidade! Subitamente apetecia-me gritar, saltar, dizer ao mundo que tu também me amavas. As lágrimas caiam-me pela rosto e eu sorria. Sorria, porque eram lágrimas de felicidade!
Sou um curioso numa busca permanente e contínua do sentido da vida. Sou gestor, professor universitário, formador, blogger e escritor (bom, aprendiz de escritor!)
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Para quem ama as letras é fácil escrever, porém, não é fácil manter a cabeça no lugar. Um pouquinho de cada coisa, dança, desenho, música e o principal textos. Venha me acompanhar nessa aventura.
A todas as pessoas que passaram pela minha vida; às que ficaram e às que não ficaram; às pessoas que hoje são presença, àquelas que são ausência ou apenas lembrança...