A JORNALISTA | PARTE V | CAPÍTULO 5

A JORNALISTA | PARTE V | CAPÍTULO 5 – O anjo da morte

Mónica Fonseca encostou-se para trás e recostou a cabeça. Nunca se tinha visto numa situação como aquela. Tinha entre mãos três assassinatos por resolver, sendo que o mais provável era estarem todos ligados entre si, podendo dar-se ainda a coincidência de o assassino ser a mesma pessoa. Precisava desesperadamente de ajuda. Por mais que lhe custasse tinha que bater à porta de Anabela. Agora que ela deixara de estar obrigada pelo sigilo, pois, o cliente, depois de absolvido, tinha sido morto, talvez estivesse disponível para partilhar aquilo que sabia. Precisava também de perceber se eles tinham prosseguido com a investigação, pois não sabia se o Chef Walker os tinha mandatado para descobrir o assassino da jornalista.
Mónica foi ter com Anabela ao escritório e estranhou não encontrar lá o detetive Perestrelo.
«O detetive Perestrelo já não trabalha consigo?»
«O Perestrelo continua a trabalhar para mim, mas isso não significa que tenha que estar presente nas minhas reuniões. Ele agirá de acordo com as minhas instruções nos casos em que trabalha para mim.»
A forma seca como as palavras foram pronunciadas deixaram Mónica de pé atrás. Passava-se algo entre aqueles dois! Mónica apresentou os seus argumentos e formulou um pedido de ajuda. Anabela ficou a olhar para ela durante alguns instantes a ponderar a situação.
«Efetivamente, nós continuamos a investigar o assassinato da jornalista, mas também o da advogada e do Chef Walker. Ele quando saiu da prisão fez questão de me contratar para o efeito tendo adiantado uma soma avultada para suportar os honorários e custos da investigação.»
«Mas com a morte dele o privilégio do segredo entre advogado e cliente desaparece.» Argumentou Mónica.
«Não estou tão segura disso na medida em que a quebra desse sigilo possa prejudicar a investigação.»
«Não é este o caso da colaboração que lhe proponho. A intervenção da polícia judiciária, estando na posse da informação que a doutora tem, pode ajudar a acelerar o processo, favorecendo a causa do seu falecido cliente.» Argumentou Mónica Fonseca, com ansiedade.
Anabela ficou calada.
«Qual o tipo de colaboração que a judiciária se propõe levar a cabo? Teremos acesso a todo o processo?»
«Sim. Podemos constituir a Anabela e o detetive Perestrelo com assistentes neste caso, o que lhes dará acesso ao mesmo, mas com a condição de partilharem connosco tudo o que sabem e o que descobrirem no futuro.»
«A judiciária consegue fazer com que o ministério público nos constitua como assistentes? Vejo pelo menos dois problemas: não somos a parte lesada, embora representemos uma e estamos a investigar o caso.»
«Esse aspeto não foi ainda discutido com eles, nem faria sentido fazê-lo sem saber da vossa disponibilidade para assumir esse papel.»
Anabela pegou no telefone e falou com Perestrelo. Ele manifestou a sua concordância.
«Parece-me uma boa ideia e não havendo restrições à nossa investigação, estou de acordo.»
O assunto ficou arrumado. Apenas faltava formalizar o estatuto deles, para que se iniciasse o processo de partilha da informação.
Anabela estava cada vez mais distante dele e Perestrelo começava a ficar cansado de tentar reconquistar o seu amor. Se ela o amasse verdadeiramente não impunha que ele tivesse que trabalhar e exclusivo para ela. Ela não queria um parceiro, queria um subordinado! Apesar de conseguir racionalizar a questão, a verdade é que gostava mesmo dela, o que tornava a situação difícil de suportar. Ainda bem que tinha decidido buscar apoio. Todos os dias, à nove da manhã, ele passava uma hora com o seu terapeuta. O resultado era bastante positivo.
Anabela chegou ao escritório mais cedo. Quando abriu a porta apanhou um susto, mas não antecipou o que estava para acontecer. A mulher galgou por cima da secretária, pontapeou a porta, para a fechar e encostou-lhe um punhal à garganta. Anabela nem sequer tinha tido tempo para gritar ou fazer algo para lançar o alerta. Apesar de lhe tremerem as pernas, recordou todas as lições de autodefesa. Respirou fundo e aguardou por uma distração da assaltante. Quando o momento se proporcionou deu-lhe uma joelhada no baixo ventre e empurrou-a para trás. Apanhada de surpresa a assaltante caiu de costas, mas rapidamente recuperou a presença de espírito. Levantou-se, num salto acrobático e carregou sobre a advogada. Esta ainda esboçou uma defesa, mas a superioridade da força e da técnica dava-lha uma vantagem considerável. No momento em que a assaltante a jogava no chão, com violência ainda logrou tirar-lhe a máscara. Isso foi um erro fatal. Arregalou os olhos de surpresa ao reconhecer o rosto.
«Mas … O que é que a senhora faz aqui?»
A assaltante esboçou um sorriso, simultaneamente, de gozo e de contrariedade. Tapou-lhe a boca e com um golpe rápido cortou-lhe a garganta.  A morte da advogada não estava nos seus planos, mas não podia deixá-la viva depois dela a ter reconhecido. Tinha que despistar as autoridades. Rasgou-lhe a blusa e baixou o soutien e as calças. Calçou umas luvas de latex e forçou-lhe a vagina simulando uma penetração à força. Apertou-lhe o pescoço, os seios e os braços para deixar marcas de violência mais consistentes com uma violação e depois deu o toque final. Colocou-lhe na mão direita o botão e fechou-a. Levou a cabo a busca que a trouxera ali em primeiro lugar e antes das pessoas começarem a chegar abandonou o escritório. «Vou ter de fazer uma visitinha ao detetive Perestrelo. Mas tenho de esperar uns dias pois a morte da advogada vai agitar as coisas.» Pensou.
O alarme só foi dado por volta das dez horas. A assistente da Anabela tinha-se ido embora, fazia um mês, por isso apenas quando ela não apareceu à primeira reunião é que um colega veio à procura dela. A polícia tomou conta da ocorrência, mas rapidamente a judiciária assumiu o controlo da investigação. O inspetor chefe João Martins deitou um olhar ao cadáver e formou logo uma opinião.
«Isto foi um crime passional.»
A agente que o acompanhava, apesar de ser uma novata torceu o nariz, mas não disse nada. Não era saudável para a carreira contrariar o inspetor chefe Martins. O tempo se encarregaria de provar se ele tinha ou não razão.

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