A JORNALISTA | PARTE VI | CAPÍTULO 2 – O Acordo
Tinha chamado um Uber e o ponto de encontro era a dois quarteirões de casa. Olhou para trás para se certificar de que não estava a ser seguido. Uma carrinha aproximou-se a grande velocidade e parou mesmo junto ao carro.
«Pode seguir em frente, em vez de virar à direita, por favor?»
O condutor olhou para ele com uma expressão interrogadora.
«Farei o percurso que entender, mas vamos dar uma grande volta, perfeitamente desnecessária.»
«Eu sei e peço desculpa por isso.»
Perestrelo virou-se para trás espreitando a reação do condutor da carrinha. Após um momento de ansiedade tudo ficou esclarecido. O carro seguiu em frente, enquanto a carrinha virava à direita. Tinha sido falso alarme!
A assinatura do acordo era mais formal do que ele imaginava pois o ministério público também estava envolvido. O documento era bastante completo e dava-lhe acesso a todo o processo.
«Qual o acesso que tenho à informação da equipa de investigação antes de esta constar do processo?»
«Este acordo não lhe dá nenhum acesso a essa informação.»
«A polícia Judiciária está autorizada a partilhar essa informação comigo, ainda que seja de forma discricionária?»
«Digamos que não está proibida, mas isso está dentro da prerrogativa deles.» Respondeu o procurador.
Mónica manteve-se em silêncio durante todo o tempo e o chefe dela seguiu-lhe o exemplo. Perestrelo fez anotação mental para se recordar que tinha de negociar isso com a polícia judiciária. O contrato também não o obrigava a dar toda a informação que obtivesse, isso seria a sua moeda de troca. Mónica pediu-lhe para o acompanhar à sede da polícia Judiciária: iriam ter a primeira reunião. Mónica sentou-se ao lado do chefe, do outro lado da mesa.
«A partir de hoje, a Mónica terá reuniões diárias consigo e você irá fornecer-lhe informações detalhadas sobre o progresso da investigação. Para além disso queremos ter acesso a todos os relatórios elaborados por si e pela Anabela.»
O chefe de Mónica Fonseca tinha a expressão séria e falou num tom brando mas autoritário: Com a autoridade da polícia.
«O acordo que assinei não me obriga a isso. Se quiserem assinar um acordo de partilha de informação, estou disponível para o fazer. Mas a partilha tem de ser mútua.»
O chefe ficou apoplético. Parecia que ia explodir. Mónica interveio antes que a situação de descontrolasse.
«O senhor tem o dever e a obrigação de informar as autoridades daquilo que souber sobre este ou qualquer outro crime.» Disse Mónica.
«O que eu tenho são um conjunto de direitos, como investigador particular, que me protegem em relação ao cumprimento dessas obrigações, sendo que estas são questionáveis. Mas se quiserem eu posso pedir ao meu advogado que vos explique isso.»
A menção do advogado deixou os polícias em sentido. Talvez aquela não tivesse a abordagem mais correta da situação. Depois de os deixar refletir, alguns momentos, sobre o impacto e abrangência da afirmação Perestrelo tomou a palavra.
«Estamos de acordo sobre a existência de uma partilha mútua de informação?»
O chefe hesitou por alguns instantes antes de dar uma resposta. Depois, olhou para Mónica, de forma intencional e concordou.
«Vou fazer um resumo dos factos dos nossos relatórios passados e envio-o ainda hoje. Quanto à partilha das novas descobertas, fá-lo-ei quando entender e na mediada em que sinta que o inverso também se verifica.»
Perestrelo foi-se embora sem lhes dar qualquer satisfação. O acordo estava selado, agora era necessário testá-lo.
Li Cheng tinha tomado posse na qualidade de CEO da LCTBK e ainda não tinha o domínio completo da situação. Uma das primeiras medidas foi nomear um CFO da sua confiança, embora mantivesse o diretor financeiro nas suas funções. Mentalmente dirigiu um cumprimento ao Lins: A equipa operacional era muito acima da média, o que tornava a tarefa dele mais fácil. A segunda etapa era mais complexa e tinha de ser levada a cabo com algumas cautelas. O processo de mudança dos prestadores de serviços no Luxemburgo já tinha sido desencadeado e as funções tinham sido definidas de forma a que os vencedores fossem os parceiros dele. Tinha sido uma manobra de mestre, considerando que quem definiu os mesmos foi o diretor financeiro. Tudo indicava que a empresa poderia registar um aumento do lucro significativo. Ele estava a apostado em drenar, uma parte desse aumento, em seu próprio benefício: tudo feito de forma perfeitamente regular. Li tinha-se tornado um verdadeiro mestre nessa arte. A coisa era apresentada de tal forma, que no fim do processo os sócios ainda lhe agradeciam o trabalho desenvolvido. Os acessos as instalações e à informação também foram restringidos, tendo-se verificado mudanças drásticas. O chefe de segurança nem queria acreditar no que estava a ouvir.
«Quero que você continue a chefiar a equipa, mas apenas pode manter um dos homens atuais.»
«Apenas com dois homens não se consegue garantir o funcionamento do posto de trabalho, vinte e quatro horas por dia, durante todo o ano.»
«Você e o seu colega apenas farão os serviços diurnos durante os cinco dias úteis por semana. As noites, os fins-de-semana e as férias, serão feitos por estes senhores.»
O senhor Li empurrou uma pasta no sentido dele. O chefe de segurança abriu-a e lá dentro estava o curriculum de três homens e uma mulher de traços orientais. Depois de ler o conteúdo da pasta aguardou em silêncio. Li Cheng pediu à secretária que mandasse entrar os novos seguranças. Estavam os quatro vestidos a rigor. Fato azul-escuro, camisa branca, gravata e sapatos pretos. As roupas escondiam uma musculatura acentuada, mas evidenciavam a estatura elevada. Eram seguramente ex-militares, tal como ele e o colega que ficaria na equipa. Foram conhecer as instalações.
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