A JORNALISTA | PARTE VII | CAPÍTULO 2 – O roubo
Quando chegou ao aeroporto viu-se rodeada de quatro jovens que tentaram tirar-lhe a mala. A intervenção de um passageiro alemão foi providencial. Perseguiu os assaltantes e retirou-lhes a mala sem qualquer dificuldade. O homem estava atrasado para o seu voo e mal lhe deu tempo para agradecer a gentileza. Maria Eduarda segurava a mala com força. Caminhava apressada e receosa. O roubo não podia ser coincidência. Alguém sabia que ela tinha a mala em seu poder e que esta continha documentos valiosos. Quando chegou ao controlo de bagagem estava muito nervosa. Ela não sabia o que estava dentro da mala. Caso fosse algo ilegal, poderia ter problemas sérios. Quando passou o controlo ficou um pouco mais calma, mas apenas relaxou quando se sentou no avião. Desta vez a seu lado vinha um casal de jovens emigrantes portugueses, que vinham passar férias a Portugal. Depois de uma parca e circunstancial troca de palavras, enterrou a cabeça no livro e nem deu conta do tempo passar. Quando entrou em casa o seu sorriso era de triunfo. Tomou um longo banho e foi jantar com uma amiga. Quando chegou a casa tinha uma surpresa. O seu visitante da noite anterior estava à espera dela. Logo nesse dia que ela tinha recusado que o agente da polícia ficasse no interior. A verdade é que queria estar sozinha para abrir a pasta. Quando sentiu o cano frio na nuca quase ia desmaiando.
«Tens um minuto para explicares o conteúdo da mala.» Disse o homem num tom ameaçador.
«Como posso fazer isso se ainda nem sequer a abri?»
«Vamos até à sala.» Ordenou.
Quando viu a mala aberta percebeu a pergunta do homem, mas nada a tinha preparado para a surpresa do conteúdo. A folha tinha escrita apenas uma palavra.
“SURPRESA!”
Maria Eduarda esqueceu-se da arma e levou as mãos à boca, transformando o grito numa exclamação abafada.
«Oh!»
«Onde está a mala que foste buscar ao banco?»
«A mala é esta, a não ser…»
«Sim?»
Depois de ouvir a descrição da cena do roubo o homem entendeu tudo. Alguém tinha trocado as malas e estava agora na posse dos documentos que pretendia recuperar. A máscara de zorro permitia-lhe ver a expressão dura do rosto do homem, reforçada pelos lábios cerrados. Parecia que ia explodir a qualquer momento. Apesar de muito nervosa, decidiu usar o charme e deixou escorregar a echarpe. A blusa era mínima e com um generoso decote. O homem piscou os olhos ligeiramente, mas o rosto manteve-se impassível. Era fácil para ele resistir à tentação. O chefe gostava dela e ele gostava de algo mais másculo.
«Vamos para o quarto.» Ordenou.
O tom da ordem pareceu uma chicotada e o rosto dela demonstrou surpresa e apreensão. Primeiro ele ignorava as insinuações dela, depois levava-a para o quarto. «Isto vai acabar mal!» Pensou.
«Despe-te!» Disse em tom seco e ríspido.
Maria Eduarda tirou as roupas lentamente deixando-o ver cada pedaço do corpo como se fosse um filme de suspense. Ao contrário do que esperava ele não demonstrou nenhuma emoção, aguardando pacientemente que se despisse.
«Deita-te de bruços.»
Mais uma vez ela obedeceu. Tinha a respiração ofegante e o nível de adrenalina era elevado. O jogo sexual agradava-lhe, mas o medo de que ele pudesse fazer-lhe mal. Dava-lhe suores frios.
«Abre as pernas.»
Ela abriu as pernas, lentamente e, com o corpo a tremer, aguardou. Esteve naquela posição uns bons dez minutos, sem que nada acontecesse.
«E agora?» Perguntou ela.
Silêncio.
Começou a virar-se muito devagarinho, esperando receber, a qualquer momento, uma ordem ou um castigo por se mexer sem ter sido autorizada, mas não aconteceu nada. Quando se virou completamente percebeu que estava sozinha no quarto. Envergonhada daquilo que tinha sentido decidiu esconder o incidente da polícia, até porque não lhes podia falar da mala.
Quando ligou o telefone Perestrelo percebeu que tinha dezassete chamadas da Mónica. Ela não fazia ideia de que ele tinha ido atrás de Maria Eduarda, usando uma identidade diferente. Decidiu ligar-lhe.
«Já te liguei umas duas dezenas de vezes sem qualquer sucesso. Desligas-te o telemóvel?»
«Estive o dia todo incontactável e não quis preocupar-te.» Respondeu Perestrelo.
«Quando for assim avisa. Estava tão preocupada contigo!»
«Desculpa. Está tudo bem. Podemos jantar hoje?» Perguntou ele.
«Claro que sim.»
«Hoje eu faço o jantar.»
Mónica sorriu.
«Queres que leve uma sobremesa?»
«Não. A tua presença é quanto basta!» Disse Perestrelo, num tom insinuante.
Um jantar em casa dele era de bom augúrio. Estremeceu de prazer em antecipação. Iria surpreendê-lo.