A JORNALISTA | PARTE VIII | CAPÍTULO 7

O Ginásio

A notícia caiu como uma bomba. As redações das televisões e jornais brasileiros não falavam de outra coisa a não ser da morte do comandante Marcus. Existia muita especulação à volta do assunto, sobretudo porque este tinha sido morto juntamente com quatro agentes da polícia. Tratava-se de quatro agentes acusados de corrupção. A versão oficial foi de que os agentes estavam numa missão de investigação da rede criada pelo falecido Jair de Lins. Perante a informação fornecida pela polícia portuguesa a cúpula da polícia Brasileira foi muito clara: O rei do crime continuava vivo de acordo com as informações de que dispunham, tendo inclusive veiculado um esclarecimento: Não estava envolvido na morte do comandante da polícia. Esta última informação deixou Mónica e Perestrelo intrigados, para além de mal vistos junto da polícia judiciária.

«Cumprimos o nosso dever de informação. A polícia brasileira que faça o seu trabalho.» Disse Mónica.

«Para mim essa história está muito mal contada.» Disse Perestrelo.

Dito isto encerraram esse capítulo e dirigiram-se para o banco. A posse da chave e da palavra-chave eram garantia de acesso ao cofre, mas tiveram que deixar a identificação. Perestrelo assinou todos os documentos e não tardou nada estavam numa sala com o cofre nas mãos.

«Estou a ficar farto desta brincadeira!» Explodiu Perestrelo depois de abrir o cofre.

Mostrou o papel à Monica e esta levantou o olhar para ele com uma interrogação.

«Se estás à espera que tenha a solução desilude-te.» Disse Perestrelo.

Mónica soltou uma gargalhada sonora. A irritação dele divertiu-a, sobretudo porque estava certa de ter a solução.

«Este fica por minha conta.» Disse Mónica.

O cofre continha um pedaço de papel do tamanho de um envelope com os seguintes dizeres:

“Avenida Defensores de Chaves 127/3854

one life live it well

HP”

«Muito bem. O nome de uma avenida e uma citação do “HP”, que desconheço quem seja, não me ajudam nada, mas se tens a solução, ótimo.» Disse ele um pouco agastado.

Ela percebeu a mensagem e ficou séria.

«Penso que não se trata de uma citação, mas sim do slogan do Holmes Place. Eu frequento o ginásio da Defensores de Chaves.»

«Muito bem. O que vamos procurar e onde, no ginásio da Defensores de Chaves?»

Essa era uma questão sem resposta. Nesse mesmo dia Perestrelo foi ao ginásio e teve direito a uma visita guiada. Depois da visita acordaram que voltaria no dia seguinte para experimentar uma hora como convidado da Mónica e só depois tomaria a decisão de se inscrever ou não. Aproveitou para indagar quais eram as horas de menor afluência.

Perestrelo apresentou-se no ginásio às dez da manhã. O ginásio estava praticamente deserto e os balneários não tinham ninguém. Perestrelo sentou-se no banco, numa das zonas dos cacifos e em vez de se equipar ficou ali a pensar. Tinham atribuído um significado a tudo o que estava escrito no papel com exceção dos números. Tratava-se de dois conjuntos de números que, em princípio teriam significados diferentes. Olhou à sua volta e reparou que todos os cacifos estavam numerados. Percorreu o balneário todo e viu que o número mal alto era 365. Isso queria dizer que o primeiro conjunto de números podia ser um número do cacifo. Aceitou essa hipótese como válida. Por coincidência o cacifo com esse número estava no compartimento onde tinha deixado a mochila. Os cacifos estavam organizados dois a dois, um por cima do outro e com dimensões variáveis. Nalguns casos o cacifo de cima tinha mais ou menos o mesmo tamanho do de baixo, nos outros o de cima era muito mais pequeno. O cacifo que procurava para além de ser dos pequenos estava fechado com um cadeado. «Será que o segundo conjunto de números é o código do cadeado?» Pensou. Rodou os números do cadeado até este mostrar os algarismos “3854”. Nada. O cadeado recusou-se a abrir. Ficou a olhar para ele sem saber o que fazer. «Talvez seja ao contrário.» Riu-se. Era uma idiotice, mas experimentou. O cadeado abriu-se como por encanto. A descarga de adrenalina rapidamente se transformou em desconsolo. O cacifo estava vazio. Não havia dúvida que era aquele o local, mas o facto de estar vazio fê-lo hesitar. Entretanto, chegaram algumas pessoas e ele fechou o cacifo, equipou-se e aproveitou para fazer algum exercício. Quando saiu inscreveu-se no ginásio, acordando que poderia desistir ao fim de um mês.

Ao fim do dia encontrou-se com Mónica e em conjunto tentaram encontrar uma explicação, mas era difícil sem estarem a ver o cacifo.

«Tens de procurar a solução dentro do cacifo e eu não posso estar contigo, pois trata-se do balneário masculino.»

No dia seguinte voltou à mesma hora. Abriu de imediato o cacifo e inspecionou o interior. Não existia ali nada. Perante o insucesso deu uma vista de olhos aos cacifos do lado esquerdo e do direito. Existia qualquer coisa que não batia certo. Olhou novamente. Efetivamente o cacifo número cento e vinte e sete tinha um ripa num dos cantos e os outros não. Analisou a ripa e percebeu que esta tinha sido colada. Tentou tirá-la com as mãos mas ela não cedeu. Retirou o canivete suíço da mochila e com a navalha forçou a ripa. Após algum esforço a ripa saltou. O seu interior era particamente oco estando apenas colada nas extremidades. Lá de dentro saltou um rolo de papel que ele se apressou a guardar na mochila. Pensou em ir-se embora de imediato, mas o “personal trainer” que tinha feito a sua inscrição passou por ali e desafiou-o para um treino.

Maria Eduarda marcou presença na primeira reunião de sócios da empresa e deu nas vistas pelas suas intervenções. Aparentemente ela era quase tão conhecedora como o falecido marido. Os sócios maioritários apreciaram a sua intervenção e considerando a conjuntura mundial, favorável à ascensão das mulheres ponderaram a possibilidade de esta assumir a condução dos negócios. Ela abraçou de imediato o desafio e o conflito instalou-se. Li Cheng afirmou que apenas sairia se vendesse a sua participação, atribuindo-se um preço, condição que os sócios maioritários não aceitaram. Maria Eduarda resolveu o conflito de forma bem diplomática: comprou a participação de Li Cheng, tornando-se a acionista maioritária com 45% da empresa. A notícia espalhou-se como pólvora. Perestrelo comentou-a ao jantar.

«Não achas estranho que a Maria Eduarda se tenha tornado a acionista maioritária da LCTBK e assumido a sua gestão?»

«Não estás a dizer isso só porque ela é mulher?» Interrogou Mónica.

«Não tem nada a ver com isso. Ela nunca teve qualquer interesse no negócio e vetou a aquisição proposta pelo marido a um preço muito inferior. Acho tudo isto muito estranho! Aliás o comportamento dela também foi estranho quando decidiu ir sozinha buscar os documentos a Genebra.»

 «Pensando bem nisso, tens razão.»

«Outra coisa que é estranha foi ela receber em casa o comandante Marcus e dois dias depois ele aparecer morto no Brasil.»

«Parece-me que já estás a fazer um filme.» Disse Mónica em tom de dúvida.

«Talvez. Mas começo a pensar que ela tem estado na sombra a manobrar muitas coisas.»

Mónica ficou a olhar para ele, pensativa. Nunca tinha pensado nela nessa perspetiva, mas fazia algum sentido. «Será que é ela que está por detrás de todos os assassinatos? A pessoa que o segurança viu na cave do palacete era uma mulher!» Pensou.

«Mudando de assunto. Tiveste oportunidade para ver os papéis que encontraste no ginásio?»

«Não. Tive que tratar de uma série de coisas durante a tarde e estava a pensar olhar para isso amanhã.»

«Hoje à noite não trabalhas?» Disse ela admirada.

«Hoje estava a pensar noutras coisas mais interessantes.» Disse Perestrelo com um sorriso malicioso.

Monica sorriu de forma sedutora, colocando a mão sobre a dele.

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