O ENCONTRO
O vasto conjunto de edifícios agrupava cinco números, com vinte e quatro apartamentos cada. Os setenta e quatro moradores tinham origens e profissões distintas e, tirando um pequeno núcleo que se encontrava nas reuniões de condomínio, apenas conheciam os vizinhos mais próximos. Apesar de viverem em prédios separados partilhavam a mesma garagem, que era constituída por uma pequena zona de boxes e uma grande área de estacionamento aberto. Quando se cruzavam no estacionamento cumprimentavam-se, por cortesia, sabendo apenas que eram vizinhos.
Fazia seis meses que ela se tinha mudado para o complexo adquirindo uma cobertura que lhe permitia uma vista espetacular sobre o rio. Apesar de ficar nos arredores de Lisboa, Póvoa de Santa Iria era uma zona bonita com uma vista de rio fabulosa. Especialmente o pôr do sol podia ser magnífico e quando a noite caía podia ver-se o espetáculo do céu estrelado, privilégio que os habitantes da capital não possuíam.
Desde o primeiro dia que se cruzava, à mesma hora com aquele homem. Cumprimentavam-se com um simples bom dia, mas a rápida e fulgurante troca de olhares dizia outra coisa. Cruzavam-se como duas espadas para logo se transformar num sorriso de veludo, com que eles se acariciavam mutuamente. Ela estremecia, mas seguia em frente, procurando não demonstrar a fraqueza que lhe tomava as pernas. Depois do primeiro cruzar de olhares ela passou a observá-lo, mal ele aparecia ao fundo do parqueamento e até ao momento em que passavam um pelo outro. Viviam em edifícios opostos e tinham o respetivo estacionamento no outro extremo do parque. Ele era um homem alto e bem constituído. Os músculos ameaçavam rebentar a barreira imposta pela camisa branca, impecável, que deixava adivinhar um peito bem torneado. «Tenho a certeza que vais ao ginásio!» Pensava ela para com os seus botões. Em seguida, fazia o resto do caminho a sonhar. Sonhava com um cumprimento diferente. Sonhava que ele lhe dizia olá em vez de bom dia. Como desejava esse olá! Desejava-o tanto que sonhava com ele.
Aquele estranho atormentava-a cada vez mais. O sorriso dele tinha evoluído e enviava-lhe agora uma mensagem de sedução que a fazia sentir perdida. «Será que estou a sonhar?» Pensou, a primeira vez que o percebeu. Aquele sorriso sedutor começou a atormentá-la durante o dia, tomando-lhe as noites de assalto. Ela tinha de fazer alguma coisa para resolver a situação. Tinham decorrido seis meses e a situação tornara-se insuportável. Naquela noite sonhou com o estranho e o sonho foi tão intenso e tão real, que acordou toda húmida e num estado de excitação incontrolável. Tomou um duche de água fria e demorou-se lá o tempo suficiente para acalmar. Durante todo o dia maturou uma estratégia para resolver o assunto e quando se foi deitar tinha tomado uma decisão.
Acordou mais cedo do que o costume, pois tinha que chegar antes dele à garagem. Depois do pequeno almoço deu os retoques finais e olhou-se ao espelho. Era uma mulher bonita, sem ser nenhuma beldade e tinha um corpo bem torneado, embora com a assinatura dos quarenta. Os amigos teciam-lhe os maiores elogios e ela não ignorava os olhares que despertava nos homens, mesmo nos mais novos, quando se passeava na paria com o seu biquíni vermelho. Deu uma vista de olhos final e ficou satisfeita com o impacto. Olhou o relógio e pensou «Está na hora!» Desceu para a garagem e dirigiu-se rapidamente para o estacionamento dele. Colocou o bilhete sobre o vidro da frente do carro, preso pelo limpa para brisas, olhando para todos os lados, com receio de ser vista. Depois desapareceu dali o mais depressas que podia. As pernas tremiam-lhe e o coração batia tão acelerado que parecia querer saltar pela boca. Entrou na box e encostou-se ao carro tentando normalizar a respiração. «Agora só me resta esperar.» Pensou.
O vizinho acordou sobressaltado. A luz tinha falhado durante a noite e o despertador ficou mudo. Em contrapartida tinha descansado bem e estava com uma energia capaz de carregar o mundo. Como já era tarde decidiu não tomar o pequeno almoço e arranjou-se à pressa. Quando descia no elevador olhou para o relógio e viu que era meia hora mais tarde que o costume. «Que pena! Hoje não vou cruzar-me com a minha princesa.»
Tinha-a encontrado pela primeira vez há seis meses e desde essa altura que se cruzava com ela. Todos os dias ele lhe dava a entender o desejo de a conhecer com o seu melhor sorriso. Ela sorria de volta mas de forma distante e ele percebeu a mensagem. A forma doce como ela dizia bom dia era como uma carícia. Pensava nela muitas vezes e no dia anterior tinha mesmo sonhado com ela, duma forma bem real. Era uma mulher bonita e com umas curvas bem interessantes, embora não fosse nenhum modelo. No entanto, a sensualidade com que se movia matava-o. Para evitar ficar boquiaberto, fingia ignorá-la enquanto se aproximava, embora a olhasse furtivamente. Quando viu o papel no vidro do carro pensou logo o pior. Retirou-o e leu-o com avidez e algum nervosismo.
«Estou à sua espera na Box número dezassete. Quando chegar bata três vezes.»
O primeiro pensamento foi o pior: «Bateram-me no carro!» Deu duas voltas ao carro olhando-o cuidadosamente. Nada! O carro estava impecável. Voltou a ler o bilhete e hesitou. Ele já estava atrasado, mas a verdade é que mesmo que não fosse ao escritório, nesse dia, não faria muita diferença. A curiosidade acabou por vencê-lo. Colocou o bilhete no bolso e caminhou em direção à box número dezassete.
Na box o sentimento que dominava a mulher era de desalento. Continuava ansiosa e excitada, mas começava a duvidar que ele viesse. «Que estupidez a minha. Quando ler o bilhete ele não vai perceber que sou eu. Devia ter deixado uma pista.» Pensou. Já passavam trinta minutos da hora a que costumavam cruzar-se e ele já devia estar a trabalhar. Virou as costas ao portão e dirigiu-se para o carro. «O melhor é ir trabalhar também!» As pancadas no portão assustaram-na. «E ele!» Pensou. O coração começou a bater acelerado e as pernas recomeçaram a tremer. Com o comando abriu a porta e encostou-se ao capo do carro para não fraquejar.
Ele esperou que o portão abrisse com alguma ansiedade. O interior foi-se tornando visível de forma gradual e logo a seguir à parte da frente do carro, apareceram dois pares de sapatos de senhora que lhe pareceram familiares. A adrenalina começou a subir à medida que apareceram as pernas, a saia, a blusa, finalmente o rosto. «E ela!» Pensou, arregalando os olhos. Ela tinha pendurado nos lábios um sorriso matreiro. A mensagem da linguagem corporal era óbvia, mas ele era um homem cauteloso.
«Olá vizinha. Precisa de alguma coisa? O seu carro tem algum problema?»
«Olá vizinho. O meu nome é Carla e o meu carro não tem qualquer problema.»
Ele pareceu ficar um pouco confuso e ela retornou.
«Já agora qual é o seu nome?»
Ainda meio estupefacto e sem saber bem o que pensar ele respondeu.
«Desculpe a indelicadeza. Eu chamo-me José.»
A vós era trémula e sentiu que o chão queria fugir-lhe debaixo dos pés. A posição de meio sentada, em que ela se encontrava, era muito sensual e a luz da box emprestava ao conjunto um ar de mistério e sedução. O cinza do carro, o vermelho da saia e o branco da blusa criavam uma ideia de perfeição, que tomou conta dele, de forma avassaladora. Tendo recuperado um pouco da presença de espírito, embora fosse ela que dominasse a cena, ele perguntou:
«A Carla precisa de alguma coisa?»
«Sim. Preciso de o conhecer!»
A forma provocante com que pronunciou as palavras e acentuou o “conhecer” provocaram um pico na eletricidade estática. A tensão era tão elevada que se tornava quase palpável. José tinha dado dois passos para o interior e ela fechou o portão. Olharam-se conscientes do desejo que se estendia entre eles, como uma barreira que tinham de conquistar. Era dela o domínio da cena, por isso foi ela que deu o primeiro passo.
«Faz seis meses que nos cruzamos nesta garagem e desde o primeiro dia que desejo estar contigo intimamente.»
A forma direta e atrevida como ela falou, dizendo que o desejava e tratando-o por tu, deixou-o completamente louco. Ele estava capaz de a agarrar e possuir de uma forma que ela não imaginava. Por sua vez ela sentia o corpo a tremer e teve de se controlar para não ter o primeiro orgasmo, só de pensar em ser penetrada por ele. Estava tão húmida que sentia o líquido escorrer-lhe pelas pernas. Olhou para ele de cima a baixo e apreciou os ombros largos e o peito bem torneado depois viu o volume do sexo dele, que se tinha tornado bem visível. Isso tornou ainda mais óbvio o desejo que sentia por ele. «Meu Deus como eu quero esse pau dentro de mim!» Quando se tratava de sexo ela gostava de usar determinadas palavras, pois isso aumentava ainda mais a excitação. Desencostou-se do carro e caminhou em direção a ele enquanto dizia:
«Esta foi a forma que encontrei para o conhecer. Já que vieste até aqui não me queres deixar conhecer tudo?»
Estavam apenas a alguns centímetros um do outro e a tensão estava ao rubro. Ela sorriu sedutora e convidou-o, com o olhar, a tomar a iniciativa. Ele não se fez rogado e segurando-lhe o rosto com delicadeza beijou-a. Ela retribuiu de forma furiosa explorando-o com a língua. Os corpos uniram-se e eles estremeceram com o contato. Ele sentou-a no capô e, sem parar de a beijar, começou a desapertar-lhe a blusa. Os seios aconchegados pela copa C do soutien de renda, tornaram-se visíveis, como duas promessas do paraíso. Ele segurou-os, primeiro com delicadeza, depois apertando-os com força. Com arte fez o soutien saltar e os seios ficaram livres. Eram uma mão-cheia de prazer, exatamente do tamanho que ele gostava. Os mamilos intumescidos pareciam duas espadas, apontadas ao peito dele. Beijou-os, enquanto ela se dobrava para trás para lhos oferecer. Com os lábios pressionou os mamilos durante alguns segundos e depois mordiscou-os. Nessa altura ela não aguantou mais e abriu-lhe a camisa de forma bruta, de uma só vez, rasgando-a e fazendo os botões saltar em todas as direções. Primeiro ele ficou chocado com o facto: era uma das suas melhores camisas. Depois, segurou-a pela cintura, virou-a, levantou-lhe a saia e, com um só golpe, rasgou-lhe a tanga, penetrando-a, por trás, sem dó nem piedade.
«Meu Deus como eu gosto que me penetrem assim. Mais, dá-me mais. José estás a deixar-me louca.»
«Gostas Carla? Gostas? Então toma. Hoje é o teu dia de sorte. Ele é todo teu.»
«Sim dá-me mais, maiiis!» Gritava ela.
«Toma. Ele é todo teu. Mas se pensas que vais ficar por aqui enganas-te. Isto é só o começo. Hoje vou tirar o dia todo só para tratar de ti.»
Ela não aguentou mais e teve o primeiro orgasmo. Mas isso não a impediu de continuara a oferecer-se e a ter prazer nisso. Quando ela pensava que ele lhe tinha dado tudo, sentiu que a segurava pelos cabelos, a empurrava ligeiramente para a frente e ouviu ele segredar-lhe.
«Vou-te sodomizar.»
Ele entrou dentro dela com algum cuidado, mas com urgência e ela abriu-se para ele com desejo. Ao fim de meia dúzia de estocadas ele libertou dentro dela o néctar da vida, enquanto ela tinha um duplo orgasmo. Estavam os dois a tremer e deixaram-se escorregar para o chão sentando-se numa manta que ele tinha, habilmente, puxado. Ficaram ali abraçados gozando a lassidão do prazer satisfeito, durante alguns minutos.
O toque do telefone sobressaltou-os, interrompendo o momento de intimidade. Era o telemóvel dela.
«Não!»
O grito de desespero dela quebrou a magia do momento.
«O que se passa?»
«Esqueci-me de uma reunião importantíssima. Tenho de ir a correr para o escritório.»
Carla entrou para o carro, abriu o portão e desapareceu deixando o José ali plantado.