O AMIGO DA FILHA
Sónia tinha dezanove anos e apesar de ser uma mulher muito interessante, disfarçava isso com a forma como se vestia. Os rapazes adoravam a sua companhia, disputando-a de forma quase agressiva, mas ela vivia para os estudos e o desporto, pelo menos nas aparências. Era uma excelente jogadora de basquetebol, tendo ingressado, fazia dois anos, num dos maiores clubes nacionais. Isso fazia com que convivesse muito com o meio desportivo, até porque fazia muitas viagens pelo clube. Apesar desta reserva e afastamento, em relação aos homens, aqueles que pensavam que ela era virgem enganavam-se.
Ela gostava de homens mais velhos e, por isso mesmo, se tinha envolvido com o pai de uma colega, mas a relação complicou-se quando ele decidiu voltar para os braços da ex-mulher. A relação foi mantida no segredo dos deuses e, por isso, a amiga não fazia ideia que ela era a mulher com quem o pai andava. Sónia tinha a consciência tranquila pois quando o conheceu, fazia mais de dois anos que ele estava separado da mulher. Apesar da amiga ignorar que ela tinha uma relação com o pai, foi através desta que soube que este tinha voltado para casa, fazia mais de um mês.
Estavam a caminho do Porto, para mais um jogo e a amiga entrou no autocarro e deu-lhe a novidade de chofre. Ele tinha-lhe omitido esse facto e ainda na véspera tinham estado juntos. Jantaram à pressa e mais cedo do que o costume, depois foram para um motel e às vinte e três horas já ele a estava a deixar à porta de casa. «Tenho que te poupar que amanhã tens jogo!» Tinha dito ele. Ela estranhou tanto a preocupação quanto o ar apressado com que tudo aconteceu. Ela adorava o Joaquim, mas não tolerava a mentira. Sofreu muito, mas não cedeu um milímetro nas suas convicções.
Foi nessa altura que se aproximou dela o Hugo. Tinha uma grande admiração por ela e, simultaneamente, uma grande atração. Ele era dos poucos que conseguia ver que ela escondia um verdadeiro tesouro: um corpo escultural, por detrás do fato de treino largueirão e um rosto bonito, por detrás de uns óculos de aro largo e lentes fundo de garrafa. Ele era treinador da equipa de basquete feminino, do mesmo clube e, apesar dos trinta anos de idade, ainda era solteiro.
Sónia aceitou a companhia dele. A forma como este a apoiou, mesmo sabendo muito pouco sobre a causa do desgosto, significou muito para ela. Ele não tentou aproveitar a situação em seu favor, nem quis saber dos detalhes, limitou-se a estar lá quando ela precisava. Durante algum tempo, ele ainda alimentou esperanças, depois aceitou a amizade, sem se preocupar com o que diziam nas costas deles. Isso era, aliás, um dos motivos de brincadeira entre os dois. Tinham trocado um único beijo, mas tinha sido o barómetro da relação: eram apenas amigos.
Júlia conhecia todos os segredos da filha. Eram tão unidas que isso incomodava as pessoas com quem se relacionavam, por se sentirem excluídas. Tinha sido mãe aos dezoito anos e a vida a dois, ou melhor dizendo, a três, durou muito pouco, apesar das juras de amor do pai de Sónia. Júlia amava-o de verdade e a prova disso é que, apesar de ele ter partido quando a filha fez cinco anos e Júlia apenas vinte e três, não tinha arranjado outro companheiro. Foi duro passar por um divórcio ao mesmo tempo que ficou desempregada. O ex-marido foi viver para os Estados Unidos e, de lá, enviava uma ajuda precária, para o sustento da filha. Na verdade, nunca se tinham casado por isso também não tinham um acordo de divórcio. Ele era o pai de Sónia, tinham vivido uns anos juntos e isso resumia a relação. O emprego no banco veio no dia em que a filha fazia seis anos e ela agarrou a oportunidade com as duas mãos. A dedicação ao trabalho e à filha fazia com que não tivesse tempo para outras relações.
Apesar dessa solidão, experimentou algumas amizades coloridas que lhe permitiram a satisfação de algumas das necessidades que eram sempre melhores quando satisfeitas a dois. Ela adorava sexo! Ao contrário da filha era uma mulher que gostava de se vestir bem e até de evidenciar os seus atributos físicos, embora sem exageros. Era uma morena muito sensual. Os cabelos pretos emolduravam-lhe o rosto, caindo sobre os ombros em cachos sedosos. Tinha lábios sensuais, carnudos como cerejas, que despertavam o desejo de um beijo. As maças do rosto, salientes, eram de uma beleza egípcia. O corpo era curvilíneo e embora fosse pequena, ao contrário da filha, era muito sensual. O conjunto funcionava de forma harmoniosa e, regra geral, os homens homenageavam-na com um segundo olhar, embora não se pudesse qualificar como uma mulher bonita.
Júlia não tinha conseguido despachar-se tão depressa quanto desejava, mas estava a terminar o último processo e sairia dentro de meia hora. O toque do telefone interrompeu-a.
«Está tudo bem amor. Eu sei que estou atrasada, mas já vou sair.»
«Não te preocupes mãe. Eu trato do jantar. Apenas queria saber se o meu amigo Hugo pode jantar cá hoje.»
«Hum…! Amigo?»
«Sim mãe. Sabes bem que é apenas isso. Os pais estão com problemas e ele prefere deixá-los sós.»
Júlia arrependeu-se de imediato do comentário. Ele era amigo da filha e tinha estado ao lado dela quando esta precisou, por isso o mínimo que a filha podia fazer era retribuir.
Quando entrou em casa eles estavam tão absorvidos na cozinha que apenas deram por ela quando falou. Hugo virou-se, apanhado de surpresa e arregalou os olhos. Júlia estava na ombreira da porta da cozinha exibindo o esplendor dos seus trinta e sete anos. Era uma mulher, simultaneamente madura, e jovem. Eles trocaram um olhar eletrizante, tão intenso que a própria filha o sentiu. Sónia fez um compasso de espera antes de cumprimentar a mãe e um sorriso aflorou-lhe os lábios. Júlia disfarçou o mais rápido possível e abraçou a filha, retendo-a no amplexo mais do que era normal, aproveitando para se acalmar. Depois, com o ar mais natural do mundo, beijou o rapaz na face.
«Muito prazer D. Júlia.»
«Júlia. Apenas Júlia. A minha filha fala tão bem de ti que a curiosidade em te conhecer é grande.»
Hugo não soube o que dizer, mas ficou agradado com o tratamento informal. O efeito dela sobre ele tinha sido devastador! Tinha uma vontade tão grande de a agarrar e beijar que quando se aproximava dela sentia as pernas bambas e o corpo a tremer de desejo. «É melhor ter alguma calma. Ela é a mãe da Sónia!» Pensou. Por seu lado, Júlia sentia uma atração por aquele homem como já não se lembrava de sentir. Não tinha conhecido muitos homens antes de engravidar e apenas vários anos depois do companheiro ter partido é que voltou a estar com outro homem. Apesar de, no momento atual, ter uma vida sexual ativa, apenas o pai da filha tinha exercido tal atração sobre ela. Absorvida por estes pensamentos não se apercebeu que ele estava mesmo a seu lado e voltou-se, bruscamente, chocando com ele. Os seios ficaram encostados ao peito dele e os rostos tocaram-se, tal foi a proximidade que o choque provocou. Ficaram parados, colados um ao outro, alguns segundos, que pareceram uma eternidade. A vontade de se beijarem era quase incontrolável. Hugo foi o primeiro a baixar o olhar e a afastar-se, não sem antes sentir que os seios dela estavam intumescidos e os mamilos eretos. O seu membro respondeu de imediato.
Colocaram o tabuleiro com a comida no forno e, enquanto esperavam, foram para o sofá conversar. Ao princípio, Sónia ainda participou na conversa, depois sentiu que era colocada de parte. A mãe e o amigo, focados um no outro, satisfaziam a curiosidade mútua. O mais impressionante era ela sentir que se não estivesse ali eles já se teriam envolvido sexualmente. Os jogos e as insinuações acentuaram-se durante o jantar, altura em que Júlia o tocou deliberadamente, embora fingindo casualidade. Estavam sentados numa mesa redonda com os jovens a ladeá-la e nessa altura ela sentiu a perna do Hugo encostar-se à sua. Não se fez rogada e enganchou a sua na dele, movimentando-a de forma a roçarem-se um no outro.
Hugo sentia o seu instrumento avolumar-se dentro das calças ao ponto de ficar desconfortável e as primeiras excreções manifestaram-se. O corpo tremia de desejo e, por alguma razão estranha, tinha-lhe roubado o apetite. Era como se o desejo que sentia por ela lhe satisfizesse o estômago e bloqueasse a garganta, ao mesmo tempo que sentia num desassossego desconcertante. «Tenho de a possuir!» Este pensamento martirizava-o, sobretudo porque não via forma de o concretizar. Tinha que satisfazer aquele desejo, se não fosse com ela seria sozinho. Júlia estava tão excitada que tinha molhado as cuecas e sentia-se a ferver por dentro. O desejo queimava-a, consumia-a e teria que ser satisfeito, de uma forma ou de outra. Quando olhava para ele sentia um calor, que a deixava a ferver, percorrendo-lhe o corpo e um pensamento não lhe saia da mente. «Quero devorar-te!»
Depois do jantar mãe e filha sentaram-se no sofá, enquanto Hugo se sentava numa pequena poltrona, colocada na perpendicular, em relação ao sofá, mas do lado de Sónia. Essa era a única forma de resistirem à tentação de se agarrarem e devorar um ao outro, tal era o desejo que os consumia. O ar parecia carregado de eletricidade e até Sónia a conseguia sentir. Perante aquele cenário, tomou uma decisão. O telefone dela tocou e ela atendeu como se esperasse a chamada. Ao fim de dois minutos disse.
«Desculpa Hugo, mas vou ter de ir para o meu quarto fazer um trabalho de grupo. Podes ficar à vontade. Eu volto daqui a duas horas para me despedir.»
«Não sei se a Júlia se incomoda…»
«Claro que não. Será um prazer ficar aqui a fazer-te companhia.»
Mal a filha se ausentou Júlia disse-lhe.
«Senta-te aqui ao meu lado. Assim ficas de frente para a televisão.»
Hugo sentou-se mesmo encostado a ela e Júlia, sem dizer uma palavra, agarrou-o e beijou-o. Hugo deu um salto como se tivesse apanhado um choque elétrico e entregou-se ao beijo com uma paixão avassaladora. Os lábios devoraram-se e as línguas entregaram-se a uma luta em que o objetivo não era subjugar, mas dar e receber prazer. Júlia acariciou-lhe o sexo e a mão dele abriu-lhe as pernas para a acariciar melhor.
«Vamos para o meu quarto.» Disse Júlia, com voz rouca de excitação.
Hugo pegou nela ao colo e carregou-a, colocando-a na cama com delicadeza. Depois… depois entregaram-se a umas horas de sexo escaldante e só regressaram à sala já perto da meia noite. Sónia esperava-os com um sorriso cúmplice. Eles vinham com um ar satisfeito, o que era normal. Surpreendente, foi o ar enamorado com que os dois se olhavam.
«Desculpa!» Disse Hugo, fazendo uma festa na cara da amiga.
«Está tudo bem. Estou feliz por vocês.» Disse Sónia com um sorriso de verdadeira satisfação.
Sónia estava encantada ao ver a mãe assim com um ar tão feliz. Se ela encontrasse de novo o amor seria muito bom para ela. A mãe merecia isso e muito mais!
As expetativas da filha podiam ser elevadas e até virem a concretizar-se, mas era cedo demais para falar disso. A noite terminou e as mulheres despediram-se do Hugo. Era altura de se entregarem nos braços do Morfeu.