Recebi hoje a tua carta. Hesitei uns momentos antes de abrir o subscrito, libertando a mensagem que eu aguardava com tanta ansiedade. Têm sido dias difíceis os desta espera. Não foi fácil decidir escrever-te, mas não tinha alternativa. O amor foi mais forte do que tudo! Foi mais forte do que a sua própria perca. Desde então, que o meu peito estremece cada vez que o carteiro bate à porta. O meu coração divide-se entre o anseio por novas e o receio de que elas sejam a sua desgraça. Perder-te seria um golpe fatal! As minhas mãos tremem… Rasgo o envelope, danificando a própria carta. Felizmente nada que não se resolva, bem mais fácil do que consertar um coração dilacerado.
Leio a carta de um fôlego! Embebedo-me com as tuas palavras. Sorvo cada uma como um gole de néctar divinal. O primeiro parágrafo deixa o meu coração num alvoroço e imagino o pior. À medida que vou lendo o meu coração sossega, mas a emoção toma conta de mim. Derramo lágrimas de felicidade. Uma felicidade indescritível. É um sentimento que toma conta de mim e me faz flutuar. Todos os receios desapareceram. Sinto-me leve e com uma energia capaz de carregar o mundo. O teu amor transforma-me num super-homem! Sonho de olhos acordados.
Sonho que estás a meu lado. A distância que nos separa desvanece-se e dou-te a mão. Juntos passeamos na areia, junto ao mar. As ondas vêm, docemente, beijar-nos os pés, abençoando o nosso amor. A areia, fresca e molhada, marca as nossas pegadas, lado a lado, mostrando-nos como devemos caminhar na vida.
O cenário muda. Estamos sentados no alpendre da nossa casa e a noite caiu. Os grilos anunciam ao mundo que esta é uma noite para celebrar. É uma noite quente e estrelada. Tu deitas a cabeça no meu colo e contas as estrelas. Eu olho a noite, iluminada pelo luar de Agosto. Os tons prata, escurecidos, aqui e ali, pelas manchas de arvoredo dão vida à paisagem, conferindo-lhe uma transparência única. É noite de lua cheia! Os nossos corações estão em sintonia com ela: transbordam de amor como a lua transborda de luz.
Gentilmente seguro-te o rosto e beijo os teus lábios. Sabem a cereja madura, doce e rija. Os meus braços envolvem o teu corpo e trocamos carícias. Buscamos a satisfação, um do outro, tocando-nos nos pontos mais íntimos e os corpos estremecem. Vacilam como canas ao vento e enroscam-se como madressilvas, entregando-se à dor e ao prazer. É o clímax.
O sonho continua. Abraçados, partimos em viagem. O comboio da vida tem várias carruagens, cada uma com os seus problemas e dificuldades, mas em todas elas encontramos o nosso espaço. A capa do amor protege-nos de tudo, menos do sofrimento provocado por ele próprio.
Quando acordo vejo, com tristeza, que não estás ao meu lado, mas esse sentimento depressa se desvanece, pois as tuas palavras são mágicas: fazem-me sonhar que estou a teu lado e curam o sofrimento provocado pela tua distância. Leio a carta pela centésima vez e não existem dúvidas: tu chamas por mim. Deixo tudo e sigo o som da tua voz. Por ti eu corro o mundo. Para estar a teu lado eu não conheço obstáculos.
Adormeço com a tua carta nas minhas mãos. Durmo profundamente e sem sobressaltos. O teu amor embala-me e nos meus sonhos tu cantas uma canção de nanar. Eu sou o teu menino. Um menino grande que te ama de uma forma impossível de descrever. A expressão do meu rosto é de uma beatitude inenarrável. Os meus lábios exibem um sorriso singelo e tranquilo. Acordo. É tempo de tratar da partida. Sim eu vou partir, não para me afastar, mas para ir ao teu encontro. Dentro de quatro dias estarei a teu lado. Talvez chegue primeiro que esta carta, mas isso não sei. Apenas sei que te amo e quero aproveitar todos os momentos possíveis para estar a teu lado.
Sou um curioso numa busca permanente e contínua do sentido da vida. Sou gestor, professor universitário, formador, blogger e escritor (bom, aprendiz de escritor!)
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Para quem ama as letras é fácil escrever, porém, não é fácil manter a cabeça no lugar. Um pouquinho de cada coisa, dança, desenho, música e o principal textos. Venha me acompanhar nessa aventura.
A todas as pessoas que passaram pela minha vida; às que ficaram e às que não ficaram; às pessoas que hoje são presença, àquelas que são ausência ou apenas lembrança...