Take 3 – Amor intocável
André,
Li e reli a tua carta, sem conseguir evitar que a emoção tomasse conta de mim em todas as vezes. Sempre tive consciência de que eu gostava de ti de forma diferente do que gostas de mim, mas secretamente esperava despertar em ti um sentimento diferente de uma mera amizade. Utilizo a expressão “mera”, não por desvalorizar a amizade, mas por desejar muito mais do que isso. Apesar do sofrimento que me causou, a tua carta fez-me bem. Acalmou o meu coração porque deixou claro qual é relação possível entre nós. Isso não anula o sofrimento, mas elimina o stress, o suspense e até o nervosismo, criado pela espectativa de saber como vai terminar. Seremos pois amigos, porque ao contrário do que seria expetável e do sofrimento que me causa ver-te e não te ter, eu prefiro a tua amizade ao teu afastamento.
Esclarecida a natureza da nossa relação deixa-me esclarecer outros aspetos, igualmente importantes. Dizes que, a paixão por alguém inacessível resulta fundamentalmente de ser inacessível e não da pureza do sentimento. Ou que a paixão se desvanece após a satisfação do desejo associado à mesma. Admiro a convicção com que expressas essa opinião, mas deixa apenas que te diga que não escolhemos as pessoas por quem nos apaixonamos. A paixão acontece e cabe-nos a nós decidir como queremos lidar com ela. A única coisa que faz com que as pessoas sejam inacessíveis é uma paixão não correspondida, pois tudo o resto é ultrapassável. Entendo que coloques no prato da balança outros valores e sentimentos e que estes pesem mais do que a paixão, mas isso é a tua forma de lidar com a paixão. É a tua escolha! Quanto ao facto da paixão ser efémera, essa é exatamente a sua natureza, pois ela existe antes do amor e sem ela não existe amor, pois a paixão é a sua semente. É verdade que existe o risco de esta se desvanecer, mas esse é o risco que tem de ser corrido por quem quer experimentar o amor.
Dizes que também sonhas viver a meu lado e que o conceito de felicidade experimentado, em sonhos, é diferente daquele que vives. No entanto, não queres correr o risco de trocar a tua vida por um sonho. Entendo a tua perspetiva, mas não procures desculpas para essa decisão, pois ela é tua e só tua. Eu abri o meu coração. Mostrei-te tudo o que penso que te poderia dar. Sinto que tu és o homem que eu quero como companheiro e que gostaria de passar a teu lado o resto dos dias da minha vida. Garantias não tas posso dar, até porque tenho de reconhecer a razão dos teus argumentos, quando dizes que não nos conhecemos verdadeiramente e não sabemos como funcionaríamos a dois. É verdade: esse é um conhecimento que apenas se adquire vivendo. Isso é assim com todas as experiencias da vida.
Pela última vez direi: por ti estou disposta a arriscar, a apostar que esta paixão é a semente de um amor profundo e duradouro. Essa planta frágil e sensível que tem de ser regada e acarinhada, todos os dias, para que cresça, se fortaleça e que, mesmo depois de viçosa e pujante, pode morrer em qualquer momento. Continuarei a sonhar contigo e a querer estar a teu lado até que o meu coração te esqueça e encontre um novo amor, mas deixarei de te fazer sentir o peso desse sentimento. Sim, porque para ti ele é um peso.
Fica, portanto, tal como disseste, a nossa amizade. Uma amizade que eu preso, mas que dói muito. Prometo cuidar deste sentimento e cuidar de ti, como amigo, para que que o sentimento seja cada vez mais puro e forte e nós possamos continuar unidos pelo resto da vida, por este sentimento tão nobre, simples e desinteressado, mas tão difícil de manter como o amor.
Eternamente tua… amiga
Margarida