Mónica era uma mulher exuberante que possuía um corpo escultural. Apesar disso, escondia-o atrás de roupas práticas que, não a beneficiando, não conseguiam anular o impacto que tinha no sexo oposto. Estava pronta. Olhou-se ao espelho e sorriu. Estava na hora. Apesar de ter uma cópia da chave decidiu bater à porta. Perestrelo viu o rosto dela pelo óculo e abriu a porta. Ficou embasbacado a olhar para ela, de tal forma que não lhe franqueou a entrada.
«Posso entrar?» Disse Mónica com um sorriso zombeteiro.
«Claro… Desculpa!»
Perestrelo afastou-se para ela entrar, mas continuava boquiaberto. Mónica envergava um vestido vermelho, de tecido, que se ajustava às formas dela como uma luva. O decote, generoso, deixava os seios espreitar como se quisessem libertar-se da prisão que este representava. O colar de pérolas enfeitava-lhe o colo dando um toque de classe ao vestido. Os sapatos de salto alto e a mala de toalete, em pele, complementavam a indumentária.
«Deixa-me ver-te melhor.» Disse depois de recuperar a presença
Mónica rodopiou de forma graciosa num passo de dança estudado.
«Tu és uma mulher bonita, mas hoje estás divinal!»
«Gostas? É tudo para ti.» Disse coquete.
«Se gosto? Adoro!»
Foi um jantar muito agradável. Seduziram-se mutuamente, com Perestrelo completamente rendido. O desejo consumia-o e os seus olhos diziam isso de forma insistente. Quando ela trouxe os cafés para a mesa, ele agarrou-a pela cintura e beijou-a. Ela colou o corpo ao dele, mostrando-lhe o quanto o desejava com um estremecimento. Entretanto, o desejo deve manifestava-se de forma mais evidente. Ela roçou o corpo no dele olhando-o com malícia. Aquilo era demais! Tomou-a nos braços e levou-a para o quarto. Era a primeira vez que estavam juntos, mas entendiam-se tão bem que pareciam conhecer-se fazia muitos anos. Ele gostava de comandar e ela de ser conduzida, reagindo a cada toque dele como se adivinhasse o que este pretendia. Ele foi tudo aquilo que ela tinha sonhado e ela realizou os sonhos dele. Ora meigos e carinhosos, ora selváticos e desesperados, eles foram de Vénus a Sodoma, sem sair do leito. Depois de saciados ficaram abraçados estremecendo de prazer e saboreando o contacto físico. Falaram sobre eles e sobre a vida. Fatalmente falaram sobre a investigação. Nessa altura ele lembrou-se que tinha algo para lhe contar.
«A Maria Eduarda foi a Genebra, hoje, levantar uns documentos no banco. Eu segui-a e os documentos estão na minha posse.»
«A forma como obtiveste os documentos pode prejudicar o processo, uma vez que tu foste constituído assistente.» Disse ela de forma séria.
«Os documentos não interessam para o processo da jornalista. Dizem exclusivamente respeito ao Jair de Lins.»
Passaram os documentos em revista e delinearam uma estratégia para divulgação dos mesmos.
«Estás muito pensativo. Existe algo mais que me queiras dizer.»
«Apenas que te amo.» Disse ele em tom brincalhão
Ela sorriu e olhou para ele aguardando pacientemente.
«A Maria Eduarda não tinha de correr o risco de ir levantar estes documentos. Ela está a esconder alguma coisa e, pelo seu comportamento, estava receosa que esta mala tivesse documentos que a comprometessem.»
Mónica ficou calada o olhar para ele, durante alguns instantes.
«És capaz de ter razão, mas a verdade é que não há aqui nada que a comprometa.»
Perestrelo encolheu os ombros e não disse nada.
«Não me digas que incluis Maria Eduarda na lista dos nossos suspeitos?»
Ele abanou a cabeça afirmativamente e sorriu.
Estava decidido Perestrelo iria ao Brasil entregar os documentos ao detetive Marcus. A judiciária tinha conhecimento do facto, mas optou por não fazer uma entrega oficial dos documentos. Assim, não os quis receber deixando ao detetive o ónus da entrega. Os Brasileiros apenas sabiam que os documentos seriam entregues por um detetive particular, desconhecendo o envolvimento formal da judiciária. Mónica fez o contacto e Perestrelo partiu para o Brasil.
Marcus recebeu Perestrelo nas instalações da polícia, embora estivesse sozinho. Tinha sido promovido a comandante da secção de grandes crimes, graças à prisão de Jair. Era o “homem do momento” no Brasil. Depois de assinar um recibo comprovativo de recebimento pegou no volumoso envelope e retirou os papéis. Perestrelo olhou para ele de forma incisiva. Se o instinto não o enganava, Marcus estava nervoso, embora conseguisse disfarçar o facto muito bem. No entanto, pouca coisa escapava ao olhar aguçado de Perestrelo. A confirmação das suspeitas veio sob a forma de uma pergunta.
«Está tudo aqui?»
«Naturalmente. Porquê, estava à espera de algo mais?»
«Não e sim. Na verdade, não podia estar à espera de mais porque não fazia ideia de que informação se tratava. No entanto, estava à espera de encontrar, em algum momento, algo sobre a rede de Jair de Lins.
Perestrelo sorriu e acenou afirmativamente. Foi um sorriso enigmático, mas Marcus não o conhecia, por isso não percebeu. «Será que estavas à espera de alguma coisa que te comprometesse?» Pensou.
«Estou muito agradecido por ter vindo entregar-me pessoalmente estes documentos. Se existir algo que possa fazer por si é só dizer.» Disse Marcus levantando-se e estendendo a mão.
Perestrelo agradeceu e abandonou o espaço. Ao fim do dia já estava no avião de regresso a Lisboa.