Resposta – Amor Desesperado
Manuel
Num mundo tecnológico como o de hoje pareceu-me estranho receber uma carta. O teu nome no remetente despertou a minha curiosidade e deixou-me em sobressalto. Não sabia o que esperar de uma carta escrita por ti, mas fiquei emocionada. Ver alguém abrir a coração da forma que fizeste, sem pensar nas consequências, surpreendeu-me. É preciso coragem ou alguma dose de loucura, a verdade é que dizem que o amor é louco…
Confesso que perceber o teu interesse, ao longo dos últimos meses, me deu adrenalina e a sensação de borboletas na barriga, me entusiasmou, mas sou comprometida. Desculpa, se te dei os sinais errados, mas quero que saibas que nunca pretendi magoar-te ou brincar com os teus sentimentos. Embora a sensação de ser desejada, por ti, me tenha entusiasmado, eu não posso ter, nem quero o teu amor. Por favor não te sintas desprezado. A verdade por vezes é muito dura, mas o meu coração já pertence a outro, pelo que não posso dar-to. Acresce, que existem entre nós algumas diferenças que são insanáveis e a idade é uma delas. Eu não consigo relacionar-me com homens mais velhos, embora os mais novos falhem sistematicamente onde os mais velhos demonstram uma sabedoria e bom senso assinalável. Talvez esteja condenada a viver relações falhadas! Eu amo o homem que comigo coabita. Apesar de todos os defeitos que nos caracterizam, conseguimos alcançar um bom entendimento. Pensando friamente, ele não é bem a pessoa que gostaria de ter ao meu lado para o resto da vida, mas é a pessoa possível. É o amor possível.
Confesso que depois de ler tua carta, o que aconteceu várias vezes ao longo das últimas semanas e antes de te responder, dei comigo a pensar em ti e percebi o quão bem nos entendemos em tantas coisas. A comparação não favorece o meu atual companheiro que, sendo mais jovem do que tu e mais inexperiente, não compreende o papel dos pais, para além de não saber bem o que quer da vida. Talvez um homem como tu seja a solução, mas não consigo tomar essa decisão, por isso estou num beco em que a saída é uma continuidade. Quero que saibas que podes contar comigo para tudo exceto para ser tua companheira. O meu coração não está livre e a tua idade é um obstáculo. Quinze anos de diferença é muito, para mim, que apenas tenho trinta e cinco.
A dureza destas palavras contrasta com o sentimento que me invade quando fecho os olhos e tento entrar nesse jardim que descreves como o jardim da fantasia. É lindo esse teu jardim onde consigo, facilmente, encontrar o meu lugar, no banco que instalaste ao centro. Por instantes, deixo-me levar pela imaginação e o por do sol a teu lado é tão maravilhoso como o descreves e envelhecer ao teu lado tem um sabor bem doce. Depois acordo e vejo-nos daqui a vinte ou trinta anos e aí a diferença de quinze parece incontornável.
O meu coração embevece-se com as tuas palavras, mas para confortar o teu apenas posso oferecer a minha amizade. Uma amizade sincera e que está disposta a frequentar a zona cinzenta entre esta e o amor, embora sem nunca permanecer lá por muito tempo. Sei que não estou a dar-te o que pretendias, mas, apesar disso, atrevo-me a pedir que aceites ser apenas meu amigo, pois a vida sem a tua amizade parece-me simplesmente insuportável.
Aceita o ósculo da amizade, na certeza de que esta pode ser eterna.
Sara
Manel
Acho que ela está quase .
A zona cinzenta dela é no fundo, um talvez.
Não corta radicalmente.
Tem cuidado. Estás em perigo !
Ainda bem que é tudo da tua imaginação. Ambas as cartas.
Quantos amigos meus já caíram em tentação , fugindo da Santidade do lar …
Com histórias como está que inventas e escreves .
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Bom dia Luís,
O desafio é tentar colocar-me no papel das pessoas que efetivamente viveram essas situações e imaginar os sentimento que experimentaram. Muito provavelmente não foi assim tudo tão puro, mas essa é a forma como eu vejo as coisas. Olha que a resposta do Manuel já está aí:
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