A Encruzilhada
O jantar terminou num ambiente romântico. Chegados a casa o desejo e a paixão substituíram o romantismo e mais uma vez entregaram-se um ao outro. Deitada no ombro dele e escondendo a nudez com o lençol, ela acariciava-lhe o peito, no meio de suspiros de prazer. Era nítido que estavam apaixonados um pelo outro.
«Já pensaste alguma vez em morarmos juntos?»
Perestrelo não respondeu de imediato. Prezava muito a sua privacidade, mas não queria por em causa a relação com uma resposta pouco ponderada.
«Sim. Confesso que já pensei nisso, mas não sei se é o momento.»
Mónica gostou da resposta.
«Sim. Claro. Não estava a dizer que me ia mudar amanhã para a tua casa, ou vice-versa.»
Era óbvio que o timing dela era bem mais curto que o de Perestrelo. Ele sentia-se bem ao lado dela. Gostava muito dela. Podia até afirmar que estava apaixonado, mas, passar a viver na mesma casa, era dar um passo muito grande, que carecia de ponderação, para não colocar em causa aquilo que existia entre eles.
«Eu tenho um feitio terrível. Não sei se ias aguentar viver comigo.»
«Já conheço quase todos os teus defeitos e já cuidei de ti durante vários dias. Acho que ia aguentar muito bem. Não sei se posso dizer o mesmo de ti.»
Ele ficou calado durante alguns instantes.
«Também não sei. Mas sei que te amo o suficiente para encarar essa possibilidade.»
Ela delirou. Colocou-se em cima dele e beijou-o com paixão. O lençol escorregou e ficou preso nas nádegas dela, deixando o tronco à vista. Os seios redondos e eretos exibiam, com orgulho, os mamilos intumescidos. Ela arqueou o tronco e espetou as nádegas numa posição sensual, que fazia os seios assestarem em direção ao rosto dele. Com uma lentidão calculada, levantou as nádegas e sentou-se nele, acomodando-o no seu seio. Perestrelo sentiu um calor gostoso a aconchegá-lo e arqueou o corpo, entrando ainda mais profundamente nela. Apesar de quase estáticos, eles sentiam cada movimento do outro, bem no seu íntimo. Prolongaram o momento até ao limite, depois entregaram-se a um clímax enlouquecedor, quase selvático. Apertaram os corpos do parceiro, como se quisessem fundir-se num só e, no meio de urros de prazer, libertaram toda a energia retida. Foi um momento único. A satisfação sexual da relação tinha subido a um outro nível!
Mónica acordou com as carícias de Perestrelo e acabaram entregando-se um ao outro. Fazer amor pela manhã era uma sensação nova para eles. Mónica partiu à pressa pois já estava na sua hora. Perestrelo foi buscar o papel que estava na mochila e levou-o para o escritório. Tratava-se de um mapa da zona circundante do palacete da LCTBK, tendo este como epicentro. Duas ruas abaixo do palacete existia um ponto marcado com um “X”. esse ponto estava ligado ao palacete por um duplo tracejado, onde se inscreviam as seguintes palavas: food paradise way. Perestrelo ficou a olhar para aquilo sem perceber bem o que queria dizer. A tradução poderia ser: caminho do paraíso da comida ou caminho do paraíso alimentar. Nada. A tradução não adiantava muito. Pegou numa lupa e analisou o mapa. Nessa altura percebeu que a mancha do palacete estava dividida e as várias divisões identificadas com letras, tudo em tamanho minúsculo. O tracejado conduzia diretamente a uma divisão marcada com a letra “K”. Analisou as outras divisões e percebeu que as letras que as identificavam eram a primeira letra da designação da divisão em inglês. Portanto o tracejado conduzia à cozinha. Claro! A cozinha é o paraíso da comida! Nessa altura lembrou-se que o segurança tinha visto uma mulher entrar na cozinha vinda de um túnel. Tinha encontrado a solução: O tracejado marcava o túnel e o “X” a sua entrada. Eufórico decidiu telefonar à Mónica.
«Isso é fantástico! Quando vais fazer uma visita ao túnel?»
«Primeiro quero falar com a Maria Eduarda.» Ripostou Perestrelo.
«Porquê?»
«Tenho receio que ela esteja por detrás de tudo e como ela agora é ela que manda na LCTBK, preciso de perceber se ela sabe do túnel.»
«Como pretendes fazer isso?»
«Com a tua ajuda.»
Mónica já antecipava esse desfecho e brindou-o com uma gargalhada sonora. Fariam como ele sugeria.
Maria Eduarda tinha assumido o comando da empresa, mas o seu controlo era outra história. Tinha que mudar algumas peças do xadrez e remover outras. A equipa de gestão era a do Li Cheng e isso podia ser o seu suicídio. Fez algumas alterações estratégicas e traçou um plano para implementar as restantes. A chamada da CSIC Mónica apanhou-a de surpresa.
«Em que posso ajudá-la inspetora?»
Era quase impossível de contrariar esta tendência que as pessoas tinham para lhe chamar inspetora. Na verdade isso era irrelevante para o efeito daquele telefonema.
«Precisamos de falar sobre o seu estatuto. Temos de avaliar se continua a precisar de proteção policial.»
Mónica apareceu acompanhada de Perestrelo e Maria Eduarda ficou encantada com o facto. Depois de concluírem que a proteção policial era dispensável, Perestrelo interveio.
«Deixe-me dar-lhe os parabéns por ter alcançado esta posição. O seu marido era tido em grande consideração por isso não deve ser fácil combater o seu fantasma.»
«O meu marido não é o único fantasma que tenho de combater.» Disse com um sorriso irónico.
«Não me diga que o palacete está assombrado.»
Maria Eduarda não acreditava em fantasmas e soltou uma gargalhada sincera.
«A verdade é que nunca descobriram donde vinha o fumo que despoletou um falso alarme de incendio.»
«Apesar de ser anterior à minha gestão isso sempre me intrigou. No entanto, tenho coisas mais importantes para resolver do que armar-me em bombeira.»
«Eu tenho uma curiosidade quase mórbida por esse tipo de mistérios. Imaginei logo túneis secretos por onde os nobres saiam ao encontro das suas amantes…»
Foi interrompido por outra gargalhada, tão sincera quanto a primeira.
«A explicação é seguramente bem mais prosaica senhor Perestrelo.» Disse divertida.
A linguagem corporal era clara. Nenhum sinal de alarme, nem no rosto, nem no corpo. Definitivamente ela não sabia nada sobre o túnel. Estava na altura de Perestrelo saber o máximo possível.