A JORNALISTA | PARTE VIII | CAPITULO IV

A massagista

No último dia da terceira semana conheceu finalmente Aja. Mais tarde acabou por concluir que o nome se adequava perfeitamente à personalidade. Ela proporcionou-lhe uma massagem inesquecível. A mulher parecia conhecer todos os músculos do corpo dele e a forma como os recuperar. Passou a fazer massagens às quartas e sextas. Com passar do tempo ela ficou a saber quem ele era e o que procurava. Aja disponibilizou-se para o ajudar e foi através dela que ficou a saber o que Anne ia ali fazer. De manhã, ela praticava artes marciais e à tarde sadomasoquismo.

«Aquela mulher gosta demasiado da dor para ser normal!» comentou Aja, em determinada altura.

Perestrelo tinha corrido o risco de dar algumas informações sobre si como moeda de troca, mas começou a achar que tinha dado muito mais do que tinha recebido. Por outro lado, a massagista começou a fazer determinados avanços que ele foi tolerando na expetativa de criar com ela um relacionamento que lhe permitisse saber mais sobre Anne. Quando isso não aconteceu ele tornou-se desconfiado. Decidido a descobrir o que Aja sabia, passou a segui-la todos os dias. Ela vivia relativamente perto do Dojo por isso fazia o caminho de regresso a casa, a pé. Depois de uma semana a segui-la começava a achar que as suas suspeitas eram infundadas.

Tinha entrado na última semana e sentia-se verdadeiramente em forma. Conseguia executar as repetições dos exercícios com esforço, mas de forma controlada, como era requerido. Na quarta-feira, Aja tentou massagear-lhe o pénis e ele interrompeu-a dizendo que estava ali para uma massagem. Aja tornou-se bruta e se não fosse a sua boa forma física ela tê-lo-ia magoado. Foi uma massagem muito dura mas ele apreciou-a. Finalmente, a perseverança trouxe-lhes os resultados que queria. Aja em vez de ir para casa foi encontrar-se com uma mulher que lhe entregou uma pequena caixa de madeira.

«Colocas isto no chá, antes da massagem de sexta-feira. Ao fim de dez minutos ele vai estar completamente drogado. Nessa altura vais ter com as tuas colegas e entro eu.»

Apesar de conseguir ouvir o que diziam com o aparelho, que tinha colocado na bolsa dela, não conseguiu identificar quem era a pessoa com que Aja se encontrou. A massagem de Perestrelo era ao fim do dia, mas ele conseguiu convencer um dos ingleses do grupo a fazer uma massagem com ela antes dele. Cosido com a parede e movendo-se como um felino, conseguiu entrar no spa sem ser visto. Com recurso ao conjunto de gazuas, entrou no espaço das massagistas e substituiu o frasco que estava dentro da caixa, que Aja tinha recebido da desconhecida, por um líquido inócuo. Iria correr um grande risco, porque os frascos eram ligeiramente diferentes. Se Aja tivesse aberto a caixa notaria a diferença. Isso ainda lhe dava tempo para voltar a obter a droga, pois entre as duas massagens mediava o espaço de uma hora. Estava tenso e nervoso e a tentação de não comparecer à massagem era grande, mas isso significava partir sem saber nada. A desconhecida queria algo dele o que significava que sabia algo relacionado com Anne. Tinha de correr o risco! Entretanto falou com um especialista que lhe disse que a droga para além de o deixar prostrado funcionaria como uma espécie de soro da verdade. Portanto, fosse quem fosse a desconhecida, estava à procura daquilo que ele sabia.

Perestrelo estava mais nervoso do que tinha antecipado e Aja notou isso.

«Está tudo bem?» Perguntou ela.

«É o meu último dia. Estou nervoso e ansioso, mas assim que a massagem começar, isso passa.»

«Vou trazer-te um chá para te acalmar um pouco.» Disse ela

Perestrelo assentiu em silêncio. Tinha chegado o momento da verdade. Se ela notasse a substituição do frasco ele estava perdido. Estendeu-se na marquesa e a massagem começou. Tinha colocado o relógio numa posição estratégica para poder ter a noção do tempo. A droga deveria ter começado a fazer efeito ao fim de dez minutos, mas ele ainda estava bem desperto. Tinha funcionado. Era altura de representar o seu papel. Fingiu perder o controlo do corpo e ficar completamente mole. Ela aplicou-lhe uma palmada violenta nas nádegas. Ele protestou, mas não conseguiu sair da marquesa. Ela virou-o e ele era um autêntico peso morto. Pegou-lhe no pénis e brincou com ele. Perestrelo resmungou mas não conseguiu reagir. Ela continuou a brincar, olhado para ele com ar de gozo. Apesar do insólito da situação, não conseguiu evitar de ficar excitado. Aja riu-se dele e abandonou o espaço.

A mulher que entrou era asiática. Se tivesse que apostar numa nacionalidade ele diria que era tailandesa. Protegia os olhos com uma máscara, mas aparentava ter um rosto interessante. Apesar de ser de estatura pequena, possuía um corpo escultural. Sorriu mostrando uma dentadura alva e perfeita. Com gestos lentos tirou os seios para fora e esfregou-lhos na cara. Perestrelo teve que fazer um esforço enorme para se controlar. Também ela decidiu brincar com ele e Perestrelo alinhou. Depois de perceber que ele estava completamente subjugado ela mudou de estratégia. Retirou um pequeno punhal da mala e encostou-lhe a ponta à garganta.

«Vou fazer-te umas perguntas e se não gostar da resposta, já sabes…»

Ele sentiu a ponta do punhal pressionar a garganta e o corpo estremeceu. Ele revelou muitas coisas com detalhe, deixando de fora tudo o que era relevante, nomeadamente a descoberta do computador de Karen e tudo o que daí resultou. A mulher ficou satisfeita e abandonou o gabinete. Perestrelo fingiu estar a dormir e quando Aja entrou outra vez ele acordou sobressaltado.

«Tive um sonho terrível!»

Ela sorriu-lhe de forma angelical e disse:

«Eu só saí por cinco minutos. Quis deixar-te descansar um pouco, depois da massagem.»

«Obrigado.»

«Já te podes vestir. Hoje é a nossa última sessão, por isso despeço-me já.»

Perestrelo vestiu-se rapidamente e foi para a rua. Ele achava que tinha conseguido identificar o local onde a asiática, que tinha interrompido a massagem, trabalhava. Se isso se confirmasse, iria fazer-lhe uma visita surpresa.

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