INQUIETAÇÕES
O que acode quanto te rebaixas
E o desassossego que em ti provoca.
A vida onde parece que não encaixas,
A insanidade que tudo isso invoca.
São apenas pequenos momentos,
Ou são verdadeiros sinais dos tempos?
A lágrima que nasce na tua fonte,
Gota que percorre o rosto, fervente.
A ruga que preenche a tua fronte.
O silencio da ausência da gente.
São excreções da tua mágoa,
Ou apenas uma gota de água?
A dúvida que o teu peito assola,
Dilacerando-o sem piedade.
O coração cujo bater te consola,
Um gesto de amor, numa eternidade.
São sentimentos de corpo inteiro,
Ou simples paragem num apeadeiro?
A mão que te segura com firmeza.
O sussurro: palavra com sentimento!
O corpo que experimenta a leveza,
Que logo se transforma em tormento.
É esta inquietação o amor,
Ou apenas insidio? Que pavor!
O abraço que te acolhe no seu seio,
Uma muralha que contém o perigo.
Um calor que é teu, mas foi alheio.
O bater intenso de um coração amigo.
É este o sentir que uma amizade contém,
Ou é antes um fervoroso amor de mãe?