Os Amantes
A imensidão do azul,
Serena,
Calma,
Murmúrios soprados ao ouvido…
Calúnias! Grita o azul.
Insiste o vento, soprando mais forte.
Espuma de raiva em ondas alterosas,
Joga-se contra a areia!
Desesperado!
Numa loucura desenfreada.
Recebe-o, a areia, de braços abertos…
Acaricia-o,
Tenta aplacá-lo,
Num sussurro meigo de amante.
Revolta-se!
Qual Poseidon de tridente
Quer manifestar a sua ira,
Ver reconhecido o direito de estar zangado.
Com mansidão, a areia,
Some-o,
Deixa-o penetrar no seu íntimo,
Como amante submissa,
E sair livre para marear
Transforma-se!
Com violência!
Escava,
Revolve,
Move a areia para outro local.
A areia não lhe resiste,
Calma,
Pacífica,
Acolhedora,
Deixa-se usar.
Deixa-o lutar por causas vãs…
Vence-o pelo cansaço.
Exausto!
Acalma-se enfim,
Num embalo suave,
Beija a areia,
Agradecido.
Acaricia-a,
Enrola-se nela, em jogos amorosos…
Com a lua por testemunha,
Dormem abraçados.
Embalados pelas ondas,
Com meiguice,
Com carinho,
Até ao despertar da aurora…