2020 – O ano do Tudo ou do Nada

A entrada é triunfal! Os progenitores são dignos e prósperos. O vaticínio é claro, para um ano gerado sob os desígnios dos vencedores: será um campeão! Mas o destino é um novelo que se enrola e desenrola num fio ora fino, suave e delicado, ora grosso, cheio de nós e imperfeições.

No desatar do primeiro nó: um clamor! A pandemia desce a encosta, virulenta, colhendo os homens, sem perdão, nem pudor. Agarra-se aos mais lentos: doentes ou idosos. Alimenta-se deles, num festim dantesco! Acorrem os cuidadores, desfazendo-se em desvelos, sem conseguir evitar o fim. Um fim só e triste, em comunhão apenas consigo mesmo. Não é possível o adeus e as lágrimas choram-se, muitas vezes, para dentro.

Alarmados, assutados, quase mesmo em pânico, refugiamo-nos em nossas casas. Confinamo-nos! Sentada às nossas portas a pandemia sorri. Espera, matreira, enquanto vemos adoecer as pessoas, as empresas e a própria sociedade. Talvez não seja a pandemia que nos vai matar, mas vai ser devido a esta que muitos vão desaparecer. Como se aplicará neste caso a lei de Lavoisier sobre a matéria?

De forma ardilosa o vírus deixou a humanidade respirar de alívio. Um alívio momentâneo, que logo deu lugar a um novo ataque ainda mais devastador. Apenas duas coisas impediram consequências mais gravosas: estávamos mais preparados e conhecíamos um pouco o seu jeito! E assim chegamos ao Natal.

Alvissaras chegou a cura! A vacina tonou-se o nosso cálice sagrado e, terminada a busca, falta-nos humedecer os lábios. Não estamos confinados, mas aconselha-se o afastamento social, como uma cura por adiamento, enquanto aguardamos a nossa vez de ser inoculados. A prazo saberemos o custo para cada um de nós e para a sociedade, desta espera solitária.

O que resta, pois, de 2020? Choro e aflição pelos que perdemos e pelo que perdemos! Esta será uma conclusão fácil de tirar. Pagamos por tantos erros acumulados. Pagamos pela arrogância do ser humano, que nunca soube comportar-se como convidado do Planeta terra e agiu como seu proprietário. Ainda assim, um proprietário pouco sábio como aquele que mata a galinha dos ovos de ouro, pondo fim à sua fonte de riqueza. Apesar de se despedir com uma vitória sobre a pandemia é inegável que o ano será negativo para todos: o indivíduo, a sociedade e a economia.

Mas será que esta realidade não merece um olhar diferente? Sem negar os impactos negativos, busquemos o que de positivo o ano nos trouxe ou nos pode trazer.

O afastamento ensinou-nos o quanto vale a proximidade. Demonstrou o valor de um abraço, de um gesto de carinho ou de um simples aperto de mão. Sentimos a sua falta, mas, sobretudo, sentimos o bem que nos faz poder tê-los ou poder senti-los! Ensinou-nos também a importância de cuidar e de estar com aqueles de quem gostamos, sempre que podemos, pois, de um dia para o outro, isso pode deixar de ser possível!

O trabalho à distância ensinou-nos a confiar e a acreditar mais nas pessoas. A perceber que, para realizar o seu trabalho, cada um de nós, não necessita de ser controlado a todo o instante, nem presencialmente. Ensinou-nos também que mais do que nunca é fundamental trabalhar, motivar e valorizar a equipa. Ensinou-nos ainda que muitas das deslocações que fazemos não acrescentam nada em termos profissionais, mas contribuem para exaurir os recursos naturais do planeta.

A necessidade aguça o engenho, diz o ditado. Esta verdade ficou demonstrada pela capacidade que a humanidade demonstrou em se focar naquilo que era importante para a sua sobrevivência, desenvolvendo uma vacina em tempo record ou produzindo aquilo que verdadeiramente fazia falta e não algo supérfluo.

Em suma, a pandemia serviu também para demonstrar que podemos e devemos viver de uma forma diferente, com menos desperdício e reduzindo o consumo dos recursos naturais, numa atitude de respeito pelo planeta. Recordemos o quão premente é dar-lhe uma oportunidade, para se restaurar, prolongado assim a sua vida útil. Para isso basta apenas que façamos das lições recebidas, lições aprendidas. Que as ponhamos em prática no nosso dia a dia, para bem de todos e de cada um e para bem do planeta.

O ano 2020, não foi o ano do Tudo, mas não podemos dizer que foi um ano do Nada. Um ano só é efetivamente mau quando não conseguimos extrair dele as lições adequadas e incorporá-las na nossa forma de viver. Vamos fazer de 2020 um ano bom. Vamos entrar em 2021 e em todos os que se seguirem, com o propósito claro de fazer das lições do passado a prática do futuro.

Bom Natal e bom Ano Novo!

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