Lisboa, 24/11/2020 (Portugal)
Olá Carmen,
Escrevo estas linhas, desejando que elas te encontrem bem, na companhia dos que te são mais queridos. Por aqui tudo bem, neste dia solarengo de outono, que convida a um passeio, logo refreado pela fresca aragem que nos convence a abotoar o casaco ou a regressar a casa.
Gostei do que li na mensagem do teu perfil. Na verdade, o que me cativou foi a possibilidade de conhecer o muito que está por detrás do que foi escrito, por isso, escrevo na expetativa de ouvir notícias tuas. Na esperança de conhecer melhor a pessoa que está por detrás desta sumária apresentação.
A primeira frase do teu perfil diz tanto, que daria, seguramente para escrever um livro. Eu identifico-me com algumas das coisas ditas, porque as vivo, na primeira pessoa e sei que vivê-las, em simultâneo, não é tarefa fácil, nem simples. Fixemo-nos nas primeiras três: Professora, poetisa e escritora. Esta é uma combinação perfeita. São profissões ancoradas na partilha. Uma partilha de conhecimento, técnico e literário, mas também uma partilha de sentimentos, sensações e descrições.
Ser professor é uma das mais nobres profissões, mas é também uma enormíssima responsabilidade. O professor, seja qual for a idade do seu aluno, exerce sobre o mesmo uma influência que vai muito para além de lhe proporcionar um determinado conhecimento. Marca-o pelo seu comportamento, pela sua atitude, pelo exemplo e com isso define, pelo menos em parte, o comportamento do próprio aluno. A tomada de consciência desse facto, tem uma carga psicológica elevadíssima e evidencia a responsabilidade associada ao exercício da profissão. Sei disso porque sou professor universitário desde 1986. Confesso que apenas nos primeiros quatro anos exerci a profissão em exclusividade e depois disso passei ao regime de convidado, dedicando a maior parte do meu tempo à atividade de gestor de empresas. Hoje, apenas dou aulas num mestrado e, portanto, apenas no semestre onde a minha matéria é lecionada. Não vou maçar-te com os detalhes, mas apenas quero dizer que a matéria que leciono inclui um capítulo sobre ética que é verdadeiramente entusiasmante e enriquecedora, sobretudo porque é suportada pela discussão de casos práticos.
Oh! A poesia… O poeta usa as palavras como armas, ora rendendo-se e despindo a armadura, ora arremessando a sua lança com fúria e o leitor corresponde-lhe, sorrindo, chorando, ou simplesmente sentindo-se dilacerado pela dor. A poesia são palavras soltas, que saem dentro de nós e, por magia, se tornam frases e se organizam numa estrutura bela de um poema. Apesar de escrever alguns poemas, não tenho a certeza de poder dizer que sou poeta. Na verdade, essa classificação é-me completamente irrelevante. Eu escrevo o que sinto e organizo-o com a estrutura que visualizo, para os sentimentos que estou a expressar, esperando que quem lê viva experiência semelhantes, no contexto da sua própria vida. Isso é poesia!
A prosa é outra coisa e por vezes é a mesma. Quantas vezes, num conto ou num texto qualquer, nos deparamos com um trecho que é pura poesia? Muitas. Já me aconteceu com textos meus! Sim também escrevo muito em prosa e quando eu digo que escrevo muito, diria que é mesmo muito (aproximadamente duzentas mil palavras por ano). Talvez mais, porque isso é o que diz o meu blog, mas os livros que estou a escrever e que já escrevi, não estão publicados no blog… Isto apenas é relevante para perceberes o quanto adoro escrever. Tenho dentro de mim tantas histórias, tantos sentimentos, que é como se no meu íntimo vivessem milhares e personagens pedindo para ganhar vida, ainda que numa curta história. Querem ver-se imortalizados no papel e correr mundo. Quantas vezes apenas desfilam perante meia dúzia de olhos, mas a verdade é que estão, ali, no papel, ávidas para ser admiradas, odiadas ou simplesmente visitadas.
Ser canoísta. Ora aí está uma coisa que nunca experimentei. Velejar sim, mas entregar-me ao embalo de um casco tão pequeno e dominá-lo com a destreza de um remo é arte que não domino. Deve ser bem excitante e, quando praticada em rápidos, muito perigoso. Também praticas em água agitadas ou só em superfícies calmas?
Outro dos gostos que partilhamos é o de viajar e conhecer pessoas. Eu viajo sempre que posso e, afortunadamente, já visitei umas dezenas de países, muitos deles várias vezes (no Brasil já estive à volta de uma dezena de vezes). O contacto com pessoas diferentes já é uma lufada de ar fresco, mas conhecer um pouco de uma outra cultura é algo muito enriquecedor, desde que exista a abertura mental para se aceitar e reconhecer a diferença.
Não tomo mais do teu tempo e despeço-me, até à volta do correio, desejando que aquilo que te disse de mim, de forma expressa ou implícita, tenha despertado a tua curiosidade e te motive a dar continuidade a este processo de conhecimento mútuo.
Um abraço amigo
Manuel Mota