Lisboa, 23/11/2020 (Portugal)
Olá Jaqueline,
Espero que esta missiva te encontre bem, na companhia dos que te que te são queridos. Por aqui está tudo tranquilo. O crepúsculo desce sobre a cidade, dando-lhe aquele tom nostálgico, tão próprio dos fins de tarde, nos climas temperados e eu dedilho as teclas do computador, deixando a minha mente voar até ao Brasil. Estou a escrever, por isso só pode estar tudo bem!
À medida que as manchas negras das linhas de texto começam a preencher a tela um sorriso aflora-me os lábios, pois o meu pensamento atreve-se a imaginar-te segurando a minha carta contra o peito, evitando abri-la e ler de enfiada o texto, que pretendes guardar para saborear mais tarde, ou a deliciares-te com um pão com manteiga entre o segundo e o terceiro parágrafo, prolongando o prazer da leitura. Desculpa, mas não resisti à brincadeira! Foi uma imagem extraordinária essa tirada da Felicidade Clandestina. Obrigado por esse momento poético! (nota: não conhecia o conto, mas fui ler, para perceber o sentido do que dizias!)
A tua carta foi uma lufada de ar fresco, numa noite tropical, não pelo facto de o outono em Portugal ser quente, mas pela sensação gostosa que foi ler a mesma. Ambos tivemos espectativas sobre a pandemia que não se verificaram e ambos esperamos que esta modifique tantos comportamentos futuros… Oxalá assim seja!
Gostei de saber que tens um blog (blogs?) e gostava que me enviasses o link para eu poder seguir, assim como teria muito orgulho em ter-te como minha seguidora (https://opensamentoescrito.com/). Eu partilho quase tudo o que escrevo no blog. Já tive um comportamento mais reservado, mas cheguei à conclusão que era egoísmo da minha parte. Então, agora apenas não publico os livros. Bom, tenho um publicado no blog, que foi escrito por capítulos. Foi um desafio bem interessante! Ainda não decidi o que fazer com os três que tenho escritos e não publicados. A verdade é que a publicação do primeiro que escrevi foi uma desilusão, em termos comerciais e isso fez-me repensar a estratégia de publicação.
Acho admirável a tua dedicação à profissão. Quando existe paixão pelo que se faz é assim mesmo: não se olha, nem ao tempo, nem ao esforço, apenas se analisa o resultado. Ensinar é um privilégio que eu também tenho, embora o faça como segunda profissão. O meu tempo é dedicado, em grande parte, à gestão de fundos turísticos e imobiliários e as aulas no mestrado são apenas para completar a minha realização profissional. Na verdade, ensinar é muito mais gratificante que a atividade de gestão. O prazer que a profissão de professor me proporciona é proporcional à remuneração que a de gestor me dá e vive versa. Enfim… a vida é feita de compromissos!
A abordagem que fazes ao teu trabalho e a forma como cuidas dos teus alunos e até das famílias, diz muito de ti e faz com que queira ainda mais continuar a partilhar contigo estas cartas, onde nos vamos dando a conhecer. Eu também tenho a mesma paixão pelos meus alunos, embora eles me abordem com outro tipo de necessidades, uma vez que se trata de um mestrado em Avaliações Imobiliárias e eles já têm todos uma licenciatura. No entanto, esta matéria tem um capítulo de ética que é o que faz todo o grupo vivar, sobretudo na discussão de casos práticos. É uma matéria que me é muito querida, pois não me limito a ensiná-la na faculdade, mas também a ponho em prática no dia a dia e isso, por vezes, coloca-nos desafios complicados, pois a ética não é compatível com determinada forma de estar nos negócios. Tendo eu a posição de administrador financeiro, a coisa por vezes fica feia…
Tal como tu tenho saudades do contacto pessoal do qual vamos estar afastados ainda durante algum tempo, pois aproxima-se o inverno e o risco de contágio aconselha a um afastamento que me doi cada vez mais. Falta-me o sorriso e o abraço dos amigos. A família é o meu reduto, mas eu e todos os meus gostamos de conviver também com a família mais alargada que inclui alguns dos amigos e esta pandemia tem-nos privado desse contacto desde o final de setembro. Vivemos tempos diferentes, que irão marcar-nos. Espero que, ao mesmo tempo nos tragam mudanças boas.
Termino desejando que esta correspondência se mantenha e que continuemos a conhecer-nos dando um pouco de nós em cada carta.
Despeço-me com um abraço amigo e atá à volta do correio.
Manuel Mota