Lisboa, 23/11/2020 (Portugal)
Olá Rita,
Espero que esta carta te encontre bem, junto de todos os que te são mais queridos. Por aqui, tudo bem, gozando um dia de sol outonal, que desafia a brisa fresca a garantir que a camisola não salta do tronco para a cintura. Digladiam-se, durante algumas horas, até que o sol abandona a refrega e a brisa nos recomenda um maior aconchego ou mesmo o regresso casa.
Foi bom receber a tua resposta e ficar a saber um pouco mais de ti. Sendo uma pessoa da área de letras e literatura tiveste seguramente acesso às técnicas de escrita, e estudaste diversos autores, tendo-te enriquecido com isso, em termos literários. Isso também é visível no teu percurso e na forma como te exprimes. Parabéns! Eu tive que fazer o percurso por mim próprio, mas a verdade é que antes de entrar para a universidade já tinha lido alguns clássicos de que muitas pessoas nunca ouviram falar, como a Ilíada, a Eneida e a Odisseia. Nessa altura, li-os com uma perspetiva mais histórica do que de leitor de poesia ou poeta. Aliás, fiz o mesmo quando li o Lusíadas, do nosso tão querido Camões. O que eu não sabia era que estava a plantar a semente do gosto pela poesia, pela escrita e naturalmente pela leitura. Hoje tenho plena consciência de que isso me conduziu ao ponto onde estou. Mais recentemente fiz vários cursos de escrita criativa, pois reconheço o quanto ainda tenho que aprender.
Vejo que tens textos publicados em vários países e que isso é um motivo de orgulho. Estou de acordo em que te deves orgulhar de todos os sucessos e essas publicações são, efetivamente, vitórias na guerra que é o caminho para alcançar a divulgação do que escrevemos. Eu, durante algum tempo, fiz esse percurso. Logo após a publicação do meu primeiro livro, pela Chiado Editora, passei a ser convidado para participar nas suas coletâneas, tendo publicado poesias, durante vários anos, na Coletânea de Poesia Contemporânea e participado em coletâneas de Contos de Natal ou Cartas de Amor. Depois de várias participações cansei-me porque tenho a sensação de que as editoras se aproveitam de nós, autores, para aumentar as suas receitas. Para além disso, ainda colhem os louros de que estão a contribuir para a divulgação da cultura, quando na verdade tudo é feito à custa dos autores, que para além de fornecerem o material são dos poucos que compram os livros. Cansei-me e desisti.
Também desisti de promover o meu livro (a verdade é que não tenho tempo para isso), pois a editora nada fez para que o mesmo fosse conhecido. Neste momento, escrevo para meu gaudio pessoal e para satisfação dos poucos seguidores que tenho no blog ou na página do facebook (são pouco mais de sete mil, mas são os meus leitores, embora tenha a certeza de que, dentre eles, os que efetivamente leem são muto poucos!).
Faço parte de vários grupos de escritores e de literatura, portugueses, brasileiros e espanhóis. Graças a isso terei dois textos publicados no Brasil, num livro organizado com os três melhores textos mensais, propostos pelos escritores do grupo, para análise, pelo Grupo de Escritores Brasileiros. São as tais pequenas vitórias tão importantes para nos dar ânimo para continuar. E eu continuo…
Dizes conhecer Lisboa, então saberás como a cidade é bonita. Efetivamente, existem muitos brasileiros a viver aqui. Eu tenho bastante contacto com a comunidade, inclusive tenho vários brasileiros que fazem parte do meu grupo de amigos. Eu sempre tive uma grande afinidade com o Brasil e durante muitos anos ia ao brasil todos os trimestres, pois tinha negócios no Rio de Janeiro e em Angra do Reis. Entretanto, também já estive em vários sítios no Brasil desde Salvador, Fortaleza, Porto Galinhas, Pipa, Natal, Rio Janeiro, Brasília, Vitória. Estive em sítios maravilhosos de praia, como Ubatuba, Guarujá, Búzios e muitas praias à volta de Natal, Fortaleza e Salvador. Mas o que mais gostei de ver foi o Pantanal e as cataratas de Iguaçu. A experiência mais desagradável foi a viagem pela estrada Transpantaneira, entre Cuiabá e o Hotel Fazenda, e o próprio hotel onde fiquei hospedado. Como eu costumo dizer, com algum humor, foram experiências inesquecíveis!
Hoje fico por aqui, esperando receber notícias tuas, na volta do correio.
Despeço-me com um abraço amigo.
Manuel Mota