Lisboa 14/01/2021 (Portugal)
Olá Carol,
Saudações!
Que esta carta te encontre em paz contigo e com o mundo. Por aqui tudo bem. A noite caiu faz tempo e lá fora reina o silêncio. As janelas dos prédios do bairro, vão escurecendo uma a uma, de forma sucessiva, permitindo que o escuro da noite se adense. Apenas os candeeiros se mantêm vigilantes e atentos, quais guardiões da noite, protegendo os raros passantes com a sua cabeça luminosa, como se toda ela fosse um olho. É uma visão interessante, mas com o seu que de assustadora!
Dizem que a noite é das trevas, dos bruxedos e feitiços. Eu acho a noite fascinante e quando era solteiro vivia a noite intensamente. Ainda hoje gosto de sair à noite para um bom jantar, um pé de dança ou apenas um passeio pelas ruas, entre amigos, enquanto absorvemos a vida e o bulício da noite de uma cidade cosmopolita. Naturalmente, que nos dias que correm nada disso é possível. Portugal está a atravessar um pico da pandemia, em que os números assumem valores astronómicos. Isso é de tal forma que, a partir de amanhã vamos estar novamente em confinamento, com tudo praticamente encerrado. A abertura dada no período do natal está a sair-nos muito cara, mas o tempo frio que se faz sentir também está a dar uma ajuda. Resultado: temos de nos proteger ainda mais.
A vacina está aí, mas a pandemia corre mais rápido que as farmacêuticas e o processo burocrático da administração da vacina. Isso significa que vai demorar algum tempo até conseguirmos a imunidade. Isto se a mutação dos vírus não for mais célere e tornar ineficaz a vacina atual. Isso, então, seria mesmo dramático! Mas vamos manter a mente aberta e o espírito positivo, pois é fundamental para a nossa sanidade mental.
Por aquilo que vi do teu perfil não era necessário receber uma carta minha para seres importante, para além do que, todos nós somos importantes para alguém ou nalguma situação. Dito isto, gostei da sensação de alguém a sentir-se importante por receber uma carta minha, na verdade sempre que alguém me envia uma carta, ou responde a uma das minhas cartas, eu também me sinto importante, pelo menos o suficiente para merecer a atenção daquela pessoa. Portanto, obrigado por te sentires importante ao receber a minha carta, eu também me senti importante quando recebi a tua resposta, ainda mais porque te referes ao que escrevo de forma tão elogiosa. Confesso que não sei se mereço os elogios, mas não regateio, aceito (risos).
Efetivamente, a gestão é uma área muito rica que nos ajuda em muitas coisas, embora também nos formate o que é, em si, uma limitação. Eu adoro aquilo que faço e dá-me imenso prazer ver nascer uma determinada transação e concluí-la, com sucesso, gerindo a equipa multifunções responsável por esta. Como sou administrador financeiro (CFO), tenho uma responsabilidade muito especifica nas transações e na empresa. Mas deixemos os negócios de lado e falemos da vida e das vidas.
Eu sou apaixonado por letras, mas os números nasceram comigo. Tenho intuição para eles. É de tal forma que toda a gente sabe que quando olho para eles e torço o nariz, é porque está algo errado. É assim desde a faculdade. No entanto, nos últimos tempos os números tornaram-se monótonos e embora os negócios sejam de dezenas ou centenas milhões, eu sinto-me muito mais motivado a escrever do que a concretizá-los. Escrevo furiosamente e leio com a mesma voracidade. Escrever, para mim, neste momento, é um vicio. É um bom vício, certo?
É engraçado que fales de livros espíritas. Nas minhas estantes também existem uns poucos, mas tenho de confessar que não são meus e são uma minoria entre as muitas centenas que as preenchem. Eu até agosto passado não ligava muito para isso, embora a minha esposa seja ligada no assunto. Mas uma experiência dramática, que acabou com três dias no hospital, de onde saí com um pace maker, despertou-me para a espiritualidade. Tenho andado a fazer algumas investigações e decidi começar pelo estudo da numerologia. Por isso, não te preocupes com o facto de te interessares por esses assuntos, penso que será algo que nos aproximará, em vez de afastar. Eu estou no início do caminho e terei todo o gosto em receber sugestões tuas sobre a forma de o percorrer, embora, como sempre a decisão seja de cada um.
Decidi dar uma saltada no teu blog e achei-o bem interessante. Li alguns textos e gostei do positivismo que eles refletem. É bem diferente do meu, o que me permite aprender ao ler. É verdade, nós aprendemos sempre alguma coisa com os outros, nomeadamente com o que lemos dos outros. Tornei-me seguidor, por isso, quando publicares algo novo devo receber um email a avisar.
Fiquei curioso com o mistério que fazes à volta dos teus ideais e com o facto de estes não poderem ser partilhados abertamente, devido a uma espécie de censura social, que não enuncias, mas que se subentende. Será que podes partilhá-los comigo? Eu não tenho medo das ideias e do seu debate, mesmo quando não estou de acordo com elas. O debate de ideias é sempre muito saudável e enriquecedor, desde que seja um verdadeiro debate e não apenas uma pessoa atentar convencer a outra de que a sua ideia é a correta.
A missiva já vai longa, mas antes de terminar gostava de saber se leste o meu texto do “2020 – O ano do tudo ou nada”, no blog. Se quiseres receber os alertas sobre as publicações basta seguir o blog, para além de saberes o que escrevo, aumentas a minha popularidade (risos, e gargalhadas). Publico tudo o que escrevo, com exceção do material dos livros. Tenho vários já completos que apenas aguardam, nem sei bem o que, para serem publicados. Também não é importante. Quando descobrir aquilo de que estava à espera, publico e pronto.
Despeço-me, por hoje, com um abraço carinhoso e até à volta do correio.
Manuel Mota