RESPOSTA – AMOR COMPLICADO

Olá M,

Li a tua carta vezes sem conta e cada vez que a lia encontrava um novo significado nas tuas palavras. No entanto, escrevo esta palavras sentindo-me baralhado, quanto aos meus sentimentos. Em primeiro lugar, deixa-me dizer que também eu não pronunciarei o teu nome, nem escreverei o meu, pois não quero agravar o teu sofrimento.

A tua carta confessa um sentimento que eu já tinha adivinhado e agrada-me vê-lo assumido da forma que o fazes. Aquilo que aconteceu entre nós assusta-me, sobretudo por não saber explicar, nem o que se passou nem aquilo que sinto. Confesso que as tuas mensagens me fazem sentir vivo, embora gerem sentimentos contraditórios. É verdade que anseio por elas, mais do que estava à espera, mas também é verdade que criam uma obrigação que me deixa uma sensação estranha. Talvez as experiências do passado me limitem de uma forma que nem eu próprio consigo alcançar. A tua presença gera uma agitação dentro de mim que me faz reviver momentos fantásticos do meu passado, mas que também me traz à memória um sofrimento tão profundo e intenso, que talvez ainda não tenha sido ultrapassado. Isso deixa-me confuso: quero viver, mas tenho medo!

Paro de escrever e leio novamente a tua carta. O sofrimento que o amor que sentes por mim te faz sentir assusta-me. O amor deveria trazer consigo apenas felicidade e bem-estar, mas, vejo que este não tem esse efeito em ti. Para mim também não tem sido assim. Os momentos de felicidade foram sempre efémeros, embora intensos, e tudo o resto é banal, indiferente ou mesmo apenas sofrimento. Para mim sempre assim foi. Quanto ao futuro de nós dois tudo são incógnitas. Os momentos em que estivemos juntos foram breves e curtos, mas nesses momentos pensei que tudo era possível. No entanto, quando não estás perto a realidade verga-me e o sentimento esmorece.

Como posso acreditar nesse amor, quando é outro o homem que se deita na tua cama? Podes jurar que ele é apenas teu amigo, mas a verdade é que é ele que acorda a teu lado, que vê o teu sorriso todos os dias, que se senta à tua mesa e que, para todos os efeitos, está a teu lado, ainda que apenas como amigo. Isso deixa-me inseguro. Como posso ter a certeza que tu não voltas para os braços dele a qualquer momento? São tantas as histórias que conheço com esse final, que a dúvida preenche o meu coração, abortando o sentimento que por vezes quer despontar.

Acusas-me de te fazer sofrer, de não me dar a conhecer e de ser indeciso. Talvez tudo isso seja verdade, mas o passado ensinou-me lições que o meu ser teima em não conseguir esquecer. Talvez não tenha o direito de te fazer passar por tudo isso, mas este é o meu verdadeiro eu. Tenho de pensar em mim e na minha filha: tudo o resto tem de se ajustar a esses dois sentimentos. Por vezes penso que sou capaz de assumir uma relação em pleno e de dar tudo por um amor, mas a realidade desmente-me no dia seguinte. Sempre fui uma pessoa independente e talvez não tenha sido feito para viver uma relação permanente e duradoura. Gostava de poder estar contigo pois sinto que a tua presença faz com que o desejo incendeie o meu corpo, para logo em seguida preferir estar só e gozar da minha independência ou simplesmente refugiar-me no grupo dos meus amigos.

Viver a dois nunca foi fácil e já paguei demasiado caro por amar uma pessoa com todo o meu ser. Ameia-a como talvez nunca mais venha a amar, mas ela não soube entender o meu amor. Queria mais. Queria que a minha presença, a minha atenção, não lhe bastava o meu amor. Não entendo como uma mulher pode não ficar satisfeita com um amor como o que lhe dediquei e querer mais. Eu não sei se consigo dar mais. Eu não sei se sou capaz de um tal compromisso, isso não quer dizer que não seja capaz de amar.

Também eu sonho com uma mulher que consiga compreender o amor que lhe dedico. Uma mulher que não espere a toda a hora declarações de amor e que não exija a minha presença constante, como prova desse amor. Amar também é saber respeitar a individualidade do outro e deixar que este tenha o seu espaço e não viva consumido por uma relação. Eu necessito de respirar!

Como já te disse as relações são complicadas e eu já fui traído. Fui traído com a desculpa de que tinha sido eu a colocar um fim à relação, por não lhe dedicar tempo suficiente. Eu não quero voltar a ser traído, pois só eu sei aquilo que sofri. A minha última relação deu-me algo que é insubstituível: a minha filha. Não pretendo ter outros filhos, portanto apenas quero uma mulher que compreenda e aceite o meu amor. Será que é pedir muito? Serás tu essa mulher?

Falas de sonho. Eu também sonho poder estar contigo e satisfazer o desejo que me consome. Imagino que a macieza da tua pela acaricia a minha, em movimentos sensuais e excitantes, levando-me ao paraíso. Imagino que os nossos corpos se unem e se desunem, em movimentos oscilantes, para se colarem, definitivamente, numa explosão de prazer indescritível. Imagino passeios infindáveis, na praia ou à beira rio, em fins de tarde cor de tijolo, em que o sol se une ao horizonte como o meu corpo se unirá ao teu, quando as sombras da noite nos cobrirem com o seu manto.

Sonho com uma vida a dois em que o meu amor te baste, sem a necessidade de ter de o provar uma e outra vez, tornado essa prova um exercício de exaustão que me cansa e desgasta. Sonho que és minha de corpo e alma e que me amas de uma forma inquestionável, bastando-te saber que te amo para seres feliz. É essa confiança que gostava de despertar em ti para além de uma paixão que leve a entregar-te sem reservas. Será que tu és essa mulher? Se tu és essa mulher então vem aos meus braços e vamos selar a nossa união com uma noite de prazer. Entrego o meu coração nas tuas mãos, deixando ao meu corpo a liberdade de ser independente.

Um coração que pode ser teu para sempre.

R

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