Enviada a carta a espera foi longa, embora não tenha sido demorada. A agonia da espera transformou os minutos em horas, deixando o meu pobre coração em sobressalto. Por mais que tentasse não conseguia evitar de pensar na possibilidade de tu não quereres nada comigo e isso deixava-me doente. Fazia com que me doesse o corpo todo e mexer ainda que apenas um músculo, tornava-se penoso. Deixei-me estar, jogado no sofá, entregue à autocomiseração e fazendo zapping com o comando da televisão. Nada me agradava, tal era o meu estado de espírito.
Não me recordava de ter colocado o telemóvel em silêncio, mas isso fez com que não visse, de imediato, o email portador da tua carta. Foi apenas, depois de, cansado de esperar uma resposta, ter decidido verificar o telemóvel, que me apercebi. Lá estava o teu email! O título era sugestivo: “Sim ao amor” e o meu coração saltou dentro do peito, num batimento descontrolado, que fez a pulsação disparar. Não li a carta, devorei-a. Devorei-a com tal voracidade que deixei metade das palavras para trás na ânsia de absorver a tua mensagem. Lia uma segunda vez com mais calma, agora saboreando cada palavra, como quem degusta um pedaço de chocolate, com o objetivo de prolongar o gostinho saboroso. Quando terminei fui invadido por uma alegria tão esfusiante que ria sozinho. Foi então que relaxei e a emoção tomou conta de mim.
Chorei libertando tudo o que era mau. Chorei todo o pessimismo que tinha alimentado o meu sofrimento, todas as dúvidas que tinham atormentado o meu coração. Chorei tudo o que tinha para chorar, mas chorei, sobretudo um choro de felicidade. Depois senti-me leve como uma pluma. Amar-te é muito bom, mas saber esse amor correspondido é uma sensação que não consigo descrever. O estado de felicidade em que me encontro é tão pleno que tenho a sensação de me ter tornado tão poderoso que nada nem ninguém me poderá derrubar. Dentro de mim sinto uma força que parece ser capaz de mover montanhas. Será que é por isso que dizem que o amor move montanhas?
Consciente do teu amor permito-me sonhar, sem ser interrompido por um pesadelo. Sonho com dias de verão passados na praia, em que trocamos beijos entre mergulhos e que mesmo dentro de água, deixo o meu corpo enrolar-se no teu e, envolvidos pela água que refresca os nossos corpos quentes, nos abandonamos nos braços um do outro, enquanto os nossos lábios trocam beijos o sussurram segredos, que são promessas de momentos de um prazer maior.
Sonho com um fim de tarde romântico em que passeamos na areia dura da maré baixa, deixando que uma onda mais atrevida nos molhe os pés, refrescando-os, enquanto o sol nos aquece as costas e nos desafia para mais um mergulho. De mãos dadas, esquecemos que no mundo existem outros e caminhamos como se fossemos únicos: um centrado no outro. Depois, sentados na areia e embalando-te num amplexo, admiramos o pôr-do-sol como se este fosse único. Vemos o astro rei poisar a cabeça, suavemente, sobre o mar, como quem se deita numa cama e fechar os olhos, enquanto o céu se enfeita de cores garridas e quentes, que vão elas próprias escurecendo à medida que a noite se levanta, aproveitando o descanso do sol para anunciar o seu reino. O amarelo e o laranja dão lugar ao vermelho tijolo que cede ao vermelho sangue, num mural em que os farrapos de nuvens se assemelham a cavaleiros imaginários, participando numa luta que vela pela luz, enquanto esta dorme.
Sonho com os dias de inverno em que a chuva e o frio nos irão convidar a ficar em casa. Repousando no aconchego do sofá, onde o teu abraço me aquecerá o corpo e o coração e os teus beijos me irão recordar que sou amado e que nunca mais irei ficar sozinho. A chuva esbarra na vidraça, clamando propriedade sobre o nosso ninho de amor, mas cá dentro a única rainha és tu e eu, embora sendo o rei, sou o primeiro dos teus súbditos.
Sonho com noites estreladas e quentes em que, deitados debaixo da abóbada celeste, contamos as estrelas até que a lua se levante e as ofusque, para nos brindar com um luar prateado, que irá iluminar os caminhos, mas encher as bordas de sombras, como quem povoa a terra de fantasmas. Essa luz ténue, que nos mostra por onde segue o caminho, mas que aos recantos dá a sombra onde se escondem os que não querem caminhar, é a luz que apesar de tudo brilha nas trevas da noite, mostrando que também aqui o nosso amor pode seguir o seu caminho.
Sonho com viagens à volta do mundo ou simples passeios de domingo à beira Tejo, onde seguimos de mão dada e conversa afiada, exibindo o amor que reina nos nossos corações e a felicidade que brilha nos nossos olhos. Temo-nos um ao outro e isso basta. Uma palavra basta. O nosso amor basta!
Sonho com o riso das crianças, hoje de outros e amanhã talvez nossas, que gritam saltando à nossa volta, deixando-nos doidos de preocupação e sem saber o que fazer, mas, ainda assim, seguros do nosso amor e de que foi esta a opção de vida que escolhemos.
Enfim, sonho simplesmente contigo…
Sonho que os nossos corpos nus, se enrolam um no outro dizendo que para além do amor existe também o desejo, que alimenta o amor, mas que exige satisfação. Sonho que nos entregamos a essa satisfação, repetidas vezes e com renovado desejo, fazendo crescer o amor que não só é inesgotável, mas que se sente reforçado por cada dia que passamos juntos.
Sonho que envelhecemos ao lado um do outro, não apenas recordando os tempos passados, mas vivendo novos tempos e novas realidades adaptadas à nossa condição, mas com um amor sempre jovem e sempre crescente. Sonho tudo isso porque isso é o meu desejo. Esses são os meus votos. Quero-te hoje e sempre por isso vem que os meus braços aguardarão por ti, bem abertos, para te estreitar entre eles, num amplexo único, quente, protetor e pleno de amor.
Teu para sempre.