CARTAS NA PANDEMIA 53

Lisboa, 07/06/2022

Bom dia Carol!

Como sempre a tua carta foi uma lufada de ar fresco, entrando pela janela, desta feita enfeitada em papel bonito e com uma mensagem de liberdade fantástica. Espero que, entretanto, as palavras que agora redijo te venham a encontrar bem de saúde e realizada pela conquista de liberdade que acabas de conseguir.

Estou a aproveitar as primeiras horas da manhã para escrever esta carta, pois, assim que o expediente começar, já sei que serei atropelado pelos acontecimentos por melhor que seja o planeamento do dia.  O sol, nasce por entre os prédios e deixa o céu de um tom rosa alaranjado que anuncia um dia mais quente do que o que tem sido hábito. Os passarinhos dão as boas vindas ao dia, com o seu gorjeio, poisados nas árvores à volta do campo de futebol. A relva, embora artificial, tem um reflexo intenso, fruto da incidência do sol, que desponta, sobre as gotículas de água que o orvalho da madrugada delicadamente depositou. É uma visão que aquece o coração. Mas voltemos a ti e à tua carta.

A alegria e a leveza que sentes é tão profunda e verdadeira que passa através das tuas palavras e me contagiam. Espero que finalizes rapidamente os projetos que ainda tens em mão em Minas Gerais e que a mudança para o Espírito Santo seja muito mais do que aquilo que ambicionas. É bom que toda a família esteja envolvida e comprometida com o projeto, pois as mudanças que fazemos em nós próprios refletem-se nos outros, sobretudo nos que nos rodeiam e quando estes não estão em sintonia com essas mudanças as coisas ficam mais difíceis.

Entretanto, fico curioso de saber como vais ocupar o tempo no Espírito Santo, pois não estou a ver-te sentada no alpendre a admirar a natureza, sem fazer nada. Talvez esteja errado, mas imaginei-te uma pessoa ativa e cheia de energia e quando assim é, abrandar o ritmo nunca pode ser sinónimo de parar!

Por aqui, não existem grandes novidades. Como sabes, o Covid continua a infetar grande número de pessoas, embora sem causar problemas graves ao sistema de saúde, pelo que começamos a testar a teoria de que temos de nos acostumar a viver com ele nas nossas vidas. As máscaras ainda são obrigatórias em alguns sítios, como é o caso de hospitais ou outros locais ligados à saúde e transportes públicos. No entanto, quase toda a gente as usa em locais fechados, com grande concentração de pessoas. Ainda no sábado passado estive numa igreja, na celebração do pai nosso da minha afilhada mais nova, e estava toda a gente de máscara.

Estamos a entrar no verão, embora o tempo não tenha aquecido como seria espectável e o país começa a ser invadido por turistas. Isso confere à cidade uma perspetiva de normalidade que tinha perdido nos últimos dois anos. No entanto, não significa que as coisas voltaram a ser o que eram. O passado nunca volta e no caso presente os custos de um lock down prolongado e da guerra da Ucrânia, começam a fazer-se sentir através de uma inflação que vão ser o grande flagelo económico dos próximos tempos. Nos próximos tempos, as coisas não vão ser fáceis para ninguém, mas vão ser bem mais difíceis, sobretudo, para as classes de rendimento mais baixo. Nada a que não estejamos acostumados!

Em termos pessoais e profissionais não tenho grandes novidades, embora cada dia seja sempre uma experiência nova. A transação em que estamos envolvidos ainda não está concluída e continua a exigir que a alimentemos de informação, qual monstro insaciável. É previsível que seja formalmente concluída neste mês, embora o fecho financeiro apenas venha a acontecer depois de cumpridos alguns prazos legais. Na minha outra vertente profissional, o ensino, tudo normal. Estamos a terminar o semestre e estou a preparar os cursos de formação profissional, que normalmente costumo dar nos meses de julho e setembro. Em relação à escrita, retomei um pouco a atividade e tenho publicado algumas coisas no blogue, ao mesmo tempo que estou a tentar concluir o quinto curso de escrita criativa e vou avançando com os livros. Neste campo, existem boas e más notícias. As boas são que acabei o livro Palavras Proibidas e estou a avançar com outros dois, em simultâneo: a Operação Formiga e a Máscara. Para além disso, tenho esquematizados mais dois: Os Necessitados e Uma Questão de Memória. As más notícias são que faz um mês e meio que não tenho notícias da publicação dos meus livros pela Brazil Publishing. Eles não respondem aos meus emails e começo a ficar preocupado, pois isso normalmente significa que a empresa está com dificuldades, podendo colocar em causa a publicação dos livros. Vamos esperar que não seja essa a consequência, mas a incerteza gerada pela gestão de um processo à distância não ajuda.

Em termos pessoais tudo está bem. Os filhos estão a dar bons passos na consolidação do seu futuro, o que me deixa feliz e realizado. São os passos deles, mas, como pai, é como se fossem meus!

Por hoje é tudo. Já me alonguei demais, por isso me despeço com um forte abraço e cumprimentos para toda a família.

O teu amigo das cartas

Manuel

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